domingo, 13 de dezembro de 2015

O MEU PRESÉPIO

O presépio, essa admirável criação de S. Francisco, deu origem a uma curiosa discussão, sobretudo entre os autores de presépios italianos. Diziam eles – e com razão – que no presépio, nascido em 1223, em Greccio, no interior da Itália, devia caber também o mar. E isto porquê? Porque o presépio é universal. Deram-lhes razão os franciscanos desse tempo, dizendo que nele cabe il mundo nel suo ordine intero, todo o mundo por inteiro. E foi por isso também que o poeta galego Álvaro Cunqueiro escreveu um poema para ser cantado na noite de Natal, que rezava assim:

São José tinha medo

Que o Menino fosse marinheiro

E saísse um dia p’lo mar fora

Embarcado num veleiro.

Não foi o Menino Jesus, mas fomos nós, embarcados em caravelas e naus pelos mares fora, levando sempre, no nosso coração de marinheiro português, um presépio. Presépio que espalhámos por todo o mundo e todo o mundo acolheu, tornando-o, assim, verdadeiramente universal. O pintor Grão Vasco, no séc. XVI, fez de um índio do Brasil um Rei Mago e um dos presépios que para mim tem mais luz é o meu presépio todo negro que me lembra o meu Natal na Guiné.

Por tudo isto, o meu presépio tem três mandarins chineses, de louça de Cantão. Comprei-os nesta cidade e trouxe-os para Macau, cidade que foi e é do Santo Nome de Deus. E antes de viajarem comigo para Portugal, levei-os à Igreja de S. Domingos a rezar a Nossa Senhora do Ar. O meu presépio tem três mandarins chineses. Vejo-os a andar apressados, no seu passo miudinho, em direcção à gruta do Deus Menino. Querem chegar antes de 6 de Janeiro. Querem chegar primeiro que os Reis Magos.

Vamos nós também com eles a Belém. Vamos nós, mais uma vez, com o nosso coração de marinheiro português, adorar o Deus Menino ao presépio que Deus fez.

                                      Um Santo Natal



Presépio que espalhámos por todo o mundo...Presépio Tailandês

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