Participaram
directamente nesta colecção grandes nomes da cultura portuguesa como Vitorino
Nemésio, José Régio, Ester de Lemos, Maria de Lourdes Belchior Pontes, António
G. Matoso, João Ameal, José Osório de Oliveira, Ana Hatherly, A. de Lucena e
Vale, Américo Cortez Pinto, José Hermano Saraiva e tantos, tantos outros.
Embora tenha sido alvo de uma medida obscurantista e anti-cultural é ainda
possível encontrar alguns de estes livros em alfarrabistas, valendo a pena a
sua aquisição e, sobretudo, a sua leitura sossegada e calma, mesmo se um ou
outro estiver aparentemente desactualizado. Constituem verdadeiras e autênticas
jóias e peças únicas de uma imperdível colecção. Fazem parte da minha estante
reservada.
E entre eles
encontra-se um Camões, de Henrique Barrilaro Ruas, sempre de boa
leitura. Clara e luminosa iniciação a Luís de Camões, constitui este livro um
pequeno – grande – ensaio biográfico do nosso maior Poeta que urge ler ou reler
nos momentos mais difíceis da nossa História. Assim foi entre 1580 e 1640; e
assim é cada vez mais necessário ainda agora. De este livro, perdido
seguramente na voragem da confusão dos tempos e dos incêndios ateados – a primeira
versão é de 1973 -, saiu uma nova edição em 1999, na Grifo. É daí que
transcrevo parte da nota final, que não consta da primeira edição.
Os Lusíadas passaram a ser como que a
alma de Portugal. Houve soldados que os perderam em Alcácer. Mas os Cantos
nunca mais seriam um signo de catástrofe. Fonte de patriotismo, de coragem e de
esperança, largamente contribuíram para a Restauração. E, hoje, é neles que o
Povo Português se pode rever ao ter de recusar a absorção num Continente sem
alma. A Comunidade de Povos Lusófonos aí está, para cantar Os Lusíadas
numa só voz.
Foi também sobre a
obra de Luís de Camões que Henrique Barrilaro Ruas, com o seu olhar puro de
menino grande, se debruçou. Sobre a lírica – Camões e o Amor – e a
épica, dando-nos uma edição comentada e anotada de Os Lusíadas que,
naturalmente sem desprimor pelas muitas e valiosas edições que já existem, deve
figurar entre as melhores, pelo cuidado posto no comentário apropriado, pelo
rigor das notas e pela qualidade dos temas desenvolvidos, de quem, não tendo
embora o estatuto de especialista, ardia, em fogo que só aparentemente se não
via, num amor apaixonado por Camões e a Cultura Portuguesa.
De 12 a 17 de
Junho de 1983 realizou-se na cidade de Ponta Delgada, nos Açores, e integrado
na XVIIª Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura, um colóquio sobre
Camões e o Renascimento, que correspondeu à IVª Reunião Internacional de
Camonistas, e cujas actas foram publicadas no ano seguinte, por iniciativa da
Universidade dos Açores. Na altura, um apressado jornalista televisivo, fazendo
alarde da sua vasta cultura, disse que tinha ocorrido nesta cidade açoriana uma
importante reunião internacional de camionistas.
O meu velho e saudoso amigo Aníbal Pinto de Castro, que nela participou
activamente, não concordou liminarmente com o teor da notícia e
confidenciou-me, em tom magoado, que havia uma substancial distinção entre um camionista, indivíduo que conduz
veículos pesados, e um camonista, honesto e profícuo estudioso da vida e da
obra de Luís de Camões. Sem querer entrar em polémicas desnecessárias ou
suscitar comentários levianos de algum leitor simpático mas distraído, tenho,
no entanto, a leve suspeita de que o
antigo e ilustre director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra é bem
capaz de ter razão.
Podem, por isso,
não valorizar os camionistas o
contributo de Henrique Barrilaro Ruas para o bom estudo camoniano. Mas não
creio que qualquer honesto camonista o não tenha, como eu, em alta
consideração.