tag:blogger.com,1999:blog-55050460053149968632024-02-18T22:00:03.459-08:00Tertúlia InvisívelAntónio Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-60801096609876077022015-12-13T04:10:00.002-08:002015-12-13T04:12:04.453-08:00O MEU PRESÉPIO<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">O presépio, essa admirável criação de S. Francisco, deu
origem a uma curiosa discussão, sobretudo entre os autores de presépios
italianos. Diziam eles – e com razão – que no presépio, nascido em 1223, em
Greccio, no interior da Itália, devia caber também o mar. E isto porquê? Porque
o presépio é universal. Deram-lhes razão os franciscanos desse tempo, dizendo
que nele cabe <i style="mso-bidi-font-style: normal;">il mundo nel suo ordine
intero</i>, todo o mundo por inteiro. E foi por isso também que o poeta galego
Álvaro Cunqueiro escreveu um poema para ser cantado na noite de Natal, que
rezava assim:<o:p></o:p></span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">São José tinha medo<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">Que o Menino fosse marinheiro<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">E saísse um dia p’lo mar fora<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">Embarcado num veleiro.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">Não foi o Menino
Jesus, mas fomos nós, embarcados em caravelas e naus pelos mares fora, levando
sempre, no nosso coração de marinheiro português, um presépio. Presépio que
espalhámos por todo o mundo e todo o mundo acolheu, tornando-o, assim,
verdadeiramente universal. O pintor Grão Vasco, no séc. XVI, fez de um índio do
Brasil um Rei Mago e um dos presépios que para mim tem mais luz é o meu
presépio todo negro que me lembra o meu Natal na Guiné.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">Por tudo isto, o meu
presépio tem três mandarins chineses, de louça de Cantão. Comprei-os nesta
cidade e trouxe-os para Macau, cidade que foi e é do Santo Nome de Deus. E
antes de viajarem comigo para Portugal, levei-os à Igreja de S. Domingos a
rezar a Nossa Senhora do Ar. O meu presépio tem três mandarins chineses.
Vejo-os a andar apressados, no seu passo miudinho, em direcção à gruta do Deus
Menino. Querem chegar antes de 6 de Janeiro. Querem chegar primeiro que os Reis
Magos.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";">Vamos nós também com
eles a Belém. Vamos nós, mais uma vez, com o nosso coração de marinheiro
português, adorar o Deus Menino ao presépio que Deus fez.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um Santo
Natal<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "calibri";"><o:p></o:p></span></span><br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXrzdbpRf5mWnD4sMfZ-jpKnHCHj3Hc491HyOpRugyki__zggKB6tr2RWjS5fXxq-QExQlUKArJ8ZLqgsJUKbef-HJl6fJ_dIIBg5-vvNUJ7Z9X8c0JBKtoBMh0tbO0KsX60BoqtMV44k/s1600/prese.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXrzdbpRf5mWnD4sMfZ-jpKnHCHj3Hc491HyOpRugyki__zggKB6tr2RWjS5fXxq-QExQlUKArJ8ZLqgsJUKbef-HJl6fJ_dIIBg5-vvNUJ7Z9X8c0JBKtoBMh0tbO0KsX60BoqtMV44k/s320/prese.png" width="311" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Presépio que espalhámos por todo o mundo...Presépio Tailandês</td></tr>
</tbody></table>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-55389474116192445492013-11-26T08:28:00.000-08:002013-11-26T08:28:21.837-08:00
<br />
<h1 style="margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O REGRESSO DA VELHA SENHORA<o:p></o:p></span></span></span></h1>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_y7QoSlw_tI8aNfFGdgw2kX2_Fn5p5o8vhOZsFczKvph5eku1-FYGKWA-Xn8MJdHfh7pBrXYtpBXIHSoDNfI1Wmt50Nd_eATyw_RIpQGgFiYMLyb8GzW3uZor2CLGx-hRC9k38Iggm48/s1600/Revista+Estudos+n%C2%BA+10+001.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_y7QoSlw_tI8aNfFGdgw2kX2_Fn5p5o8vhOZsFczKvph5eku1-FYGKWA-Xn8MJdHfh7pBrXYtpBXIHSoDNfI1Wmt50Nd_eATyw_RIpQGgFiYMLyb8GzW3uZor2CLGx-hRC9k38Iggm48/s320/Revista+Estudos+n%C2%BA+10+001.jpg" width="227" /></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um pequeno grupo
de estudantes católicos decidiu, a 18 de Março de 1901, criar, em Coimbra, um
Centro Académico que servisse para formar quadrado e cerrar fileiras, em defesa
dos princípios e valores da fé que professavam, face ao anticlericalismo do
governo de Hintze Ribeiro, liberal e intolerante, que então atacava as ordens
religiosas e ao próprio ambiente universitário, igualmente intolerante,
laicista e maçónico. Teve como principal impulsionador o Dr. António Francisco
Cordeiro, ao tempo aluno da Faculdade de Direito, e cuja firmeza, serenidade e
coerência ficaram para sempre como exemplo a seguir. A criação do Centro passou
por várias fases, tendo sido registado – a 17 de Abril de 1901 – com o nome de
Centro <u>Per Crucem ad Lucem</u> – e, mais tarde – a 18 de Janeiro de 1903 -,
como Centro Nacional Académico, para – a 20 de Janeiro de 1905 – se fixar no
nome definitivo, de acordo com a recente Doutrina Social da Igreja: Centro
Académico de Democracia Cristã (C.A.D.C.).<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como disse um dos
seus primeiros e mais marcantes presidentes, o Dr. Alberto Dinis da Fonseca: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Se 18 de Março de 1901 foi a data do <u>nascimento</u>
– 18 de Janeiro de 1903, a data do seu <u>Baptismo</u>, assim como 20 de
Janeiro de 1905 é a data da sua <u>Confirmação</u></i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas com a
implantação da República em 1910, o C.A.D.C. vê a sua sede saqueada e
encerrada. Só reabre dois anos depois, iniciando-se nessa data a publicação do
jornal <u>O Imparcial</u> que durou até 1919. Em 1922 sai o primeiro número da
revista <u>Estudos</u> que se publica, sem qualquer interrupção, até 1970.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tinha – tem – o C.A.D.C.
um programa ambicioso. Disse-o o Doutor Gonçalves Cerejeira numa das suas
famosas <u>Cartas aos Novos</u> publicada no nº 45 da revista <u>Estudos</u> e
mais tarde reunidas em volume autónomo: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
programa da vossa casa (a casa-mãe dos novos capitães de Deus) resume-se em
três palavras: <u>piedade</u>, <u>estudo</u> e <u>acção</u> – e uma vida
inteira a pô-lo em prática não chega para o realizar plenamente. Três simples
palavras, cujo significado total não se pode esgotar numa vida mortal.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas este programa entusiasmou gerações do século
passado e fez do C.A.D.C. e da revista <u>Estudos</u> um excepcional pólo de
irradiação da cultura católica, com projecção nacional e internacional. O
extraordinário número e a elevada qualidade de permutas que a revista tinha com
jornais e revistas nacionais e estrangeiras, além das obras que eram enviadas à
redacção para crítica, permitia aos estudantes, que frequentavam a sede na
Couraça de Lisboa, o acesso a uma riquíssima e actualizada biblioteca que
dificilmente encontrariam noutro local, mesmo na própria Universidade. Era também
um espaço de tertúlia e de debate livre de ideias. É ainda de realçar a sua
intensa acção de apoio social, no meio coimbrão, pondo em prática a Doutrina
Social da Igreja. Porém, nos anos sessenta, sobretudo fruto das chamadas lutas
académicas, o C.A.D.C. atravessou algumas convulsões internas, vindo a
suspender as suas actividades em 1970.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 2001, nos dias
17 e 18 de Março, muitos dos antigos membros da velha casa, a que se juntaram
alguns convidados – no total cerca de 450 – participaram num congresso que
pretendia assinalar a data da fundação de este notável centro católico – “ O
CADC na vida da Igreja e da Sociedade portuguesa” – e que foi o ponto de
arranque para a revitalização da instituição que a 8 de Dezembro viu os seus
sócios eleger uma nova direcção e o lançamento do primeiro número da nova série
da revista <u>Estudos.<o:p></o:p></u></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É o nº 10 de esta
nova série – que abarca os anos de 2008 a 2013 – cuja publicação, por motivos
que agora não colhem, se atrasou, que está aqui presente. Nela participo,
jubilosamente, com dois artigos: <u>O Meu Amigo Chesterton </u>– no qual relato
a minha forte ligação a essa figura inesquecível que urge ler e reler nos
tempos que ora correm – e <u>Cristofobia Contemporânea</u> – breve análise da
campanha anticristã, e sobretudo anticatólica, que o mundo moderno vem
desenvolvendo, praticamente já a céu aberto, através dos meios de comunicação
social e de vários intelectuais. No nosso emblema está a Cruz que muitos nos
querem tirar. Em vão. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">É que mesmo o que a
insulta é porque a vê ou a tem escondida e tem medo que outros a vejam. Porque
a cruz nunca se esconde. É como a luz que não se apaga. É como o amor que não
fenece.</i> <o:p></o:p></span></span></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-48113090832131549922013-11-08T10:23:00.000-08:002013-11-08T10:23:18.755-08:00
<br />
<h1 style="margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
SOLIDÃO E O SILÊNCIO<o:p></o:p></span></span></span></h1>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh893Gyoy8jZw9dF7K0YmPd5HKL_-IOMU42Q-gPhkfFXExtEo7hTzs_7SHjpHt2CktNQu-asrRhflxXn-fw0h5S5-N0rDyRMmUKFZxCIerJaS53HgZ1-JMUveJk5iukf27L2EKytcNv-Pc/s1600/Entrando+em+casa+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh893Gyoy8jZw9dF7K0YmPd5HKL_-IOMU42Q-gPhkfFXExtEo7hTzs_7SHjpHt2CktNQu-asrRhflxXn-fw0h5S5-N0rDyRMmUKFZxCIerJaS53HgZ1-JMUveJk5iukf27L2EKytcNv-Pc/s320/Entrando+em+casa+001.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Escrever é um
permanente diálogo com o silêncio. Quando escrevemos também falamos, mas
falamos com o silêncio que ora está sentado a nosso lado, tão discreto que
quase não damos por ele, ora vagueia pela sala, ausente e distraído, como se
não estivesse presente ou nem sequer existisse. E, no entanto, é ele que
preenche este vazio, que o relógio a espaços assinala, em badaladas breves que
o tempo, envergonhado e arrependido, logo rouba e guarda, sem delas quase
darmos conta, perdidas que foram no silêncio que não chegaram sequer a acordar.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estar vivo é ter a
noção do silêncio. E é por isso que o doente é quem mais sente o silêncio,
desejando-o para se encontrar consigo mesmo ou trocando-o levianamente pelo
barulho das conversas, o ruído das pessoas, a algazarra das visitas que na
ânsia de falar com o doente acabam por falar apenas umas com as outras,
deixando em silêncio, mas sem silêncio, o verdadeiro paciente. Fala-se demais e
num tom de voz cada vez mais alto, para abafar a palavra e o pensamento alheios,
com frases aguçadas e agrestes, que magoam e ferem, deixando profundas marcas
que o tempo dificilmente sara e a memória raramente esquece.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Também o amor é
feito de silêncios. Da cumplicidade dos olhares que não falam, dos gestos sem
ruído, dos constantes sorrisos que se trocam. Não necessitam de muitas palavras
nem de elevar o tom de voz. Fala-se quase em surdina, como se de segredo
permanente se tratasse, pois basta estar presente e as poucas frases que se
dizem vêm sempre embrulhadas em ternura e atadas com laços de carinho. O
verdadeiro amor é o que se descobre no silêncio e que nele arde lentamente,
enquanto o tempo envelhece e passa. Pouco se alimenta das palavras, quase
sempre desnecessárias, insuficientes e supérfluas. É um contínuo segredo, que
ambos conhecem e guardam, mas de que não se fala nem desvenda a mais ninguém.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É também o
silêncio um modo de enganar o tempo. De entrar no passado às escondidas, sem
ninguém ver, como quem entra no sótão das recordações e novamente descobre o
que julgava perdido, num regresso ao passado em que somos, simultaneamente,
actores e espectadores, vendo passar sob os nossos olhos o filme da nossa vida,
que já não admite cortes nem emendas. É uma viagem que fazemos a sós, com as
horas trocadas e o calendário ao contrário, jogando com o próprio tempo que nos
amarra pelos pés ao presente e deixa que o coração e o pensamento se percam no
passado.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É ainda o silêncio
que liga e religa as amizades. Quantas vezes se dispersam os amigos, pela
fortuna da vida e pela roda do tempo, ficando anos sem se ver nem falar, mas
ainda presos entre si pelo silêncio que guarda e traz de novo as recordações
dos anos que fugiram, dos encontros que não voltam, das conversas que não
esquecem. É o silêncio do passado que continuamente nos bate à porta da memória
e nos abre o coração a um novo reencontro, real ou fictício, em que os amigos
de novo se vêm e se falam, ou recordam a sós, com saudades do futuro, esse
passado, silencioso mas presente, onde plantaram e viram crescer a árvore da
amizade. É feito de silêncios o nosso cofre de amigos e o segredo que o abre,
que só com eles partilhamos, tanto pode ser um simples telefonema, uma carta
inesperada, um encontro fortuito que, num ápice, recupera os silêncios perdidos
e o tempo que passou.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já lá vai o tempo
em que as pessoas entravam nas igrejas em busca do silêncio. Do silêncio que
descia da abóbada, percorria as naves e se sentava nos bancos. Do silêncio que
reconfortava as almas e sossegava os corpos, longe, embora perto, do bulício
das ruas, da agitação do trabalho, do ruído das gentes. Do silêncio sagrado que
a todos acolhia, o crente e o descrente, o fiel e o incrédulo. Eram então as
igrejas verdadeiros oásis, oásis de silêncio neste deserto da vida demasiado
ruidosa e barulhenta.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Confundem também
alguns o silêncio com a solidão. Mas o silêncio não é a solidão. O silêncio
fala; a solidão cala. A solidão é viver completamente só, sem passado nem
futuro e sem ter a quem escutar, a quem escrever, a quem falar. É viver perdido
e, mais do que isso, esquecido do mundo, das pessoas e de si próprio. Viver
artificialmente, porque a vida é sempre uma conversa que se tem com outro, real
ou imaginário, que nos fala e nos responde em voz alta ou em silêncio. A
solidão é o prenúncio da morte; o silêncio é o prefácio da vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É do silêncio que tudo nasce; é na solidão
que tudo acaba.<o:p></o:p></span></span></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-306744732469791602013-10-28T07:34:00.000-07:002013-10-28T07:34:16.938-07:00
<br />
<h1 style="margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;">FRONTALIDADE<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>BOA
EDUCAÇÃO<o:p></o:p></span></span></span></h1>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Calibri;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjarw_Z0fY6pLdWaVZtPiU4HD9-FVvz-MtBQ5C2qLmBFLZtBScCCn5kodEyeDkDn6U1XhykFVd-FpAVfmjtxz9RHkQ9ypu6qPdzdW5iZu9qVMeXqTQIdjKJEjNks8ZSAVElzQLdyxyhYIk/s1600/Sonho+com+uvas+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjarw_Z0fY6pLdWaVZtPiU4HD9-FVvz-MtBQ5C2qLmBFLZtBScCCn5kodEyeDkDn6U1XhykFVd-FpAVfmjtxz9RHkQ9ypu6qPdzdW5iZu9qVMeXqTQIdjKJEjNks8ZSAVElzQLdyxyhYIk/s320/Sonho+com+uvas+001.jpg" width="243" /></a></span></div>
<span style="font-family: Calibri;"> </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Calibri;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw7yS953GZjdtPgz49OIjHAbs9jzS5fxiVgzPQ8ExPSx5KQBv4SlZLhHx7cd4zSS8Dy58jap5T7XVPaw0JSY0i7n0U1A866qaEQXBwPUhAk4ownFHzZN1n6OCcgcKaMy7v_xxavx05WUw/s1600/Da+Educa%C3%A7%C3%A3o,+Almeida+Garrett+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </span></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Adquiri, há
tempos, as actas de um colóquio, realizado em Paris<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no início dos anos noventa do século passado,
que versava o tema em epígrafe. Mais de uma dúzia de sábios debatia um conjunto
de questões que se põem hoje a todo o homem sério e honesto sobre as regras de
boa educação que desde a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Paideia</i> da
velha Grécia à <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Humanitas </i>da Roma
antiga, passando pelos contributos renascentistas e de outros períodos
históricos, chegaram até nós, e as correntes individualistas que, sobretudo
após Maio de 68 e a sua infantil e contraditória expressão <i style="mso-bidi-font-style: normal;">é proibido proibir</i>, subverteram essas mesmas normas e criaram a
falsa noção de sinceridade ou de frontalidade que tanto adorna hoje a desbocada
conversa de alguns adultos que não passam, afinal, de adolescentes mal criados.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Todos sabemos que
a chamada boa educação é uma questão de berço; de criação, diz-se em português
de lei. E a cultura pode, e deve, torná-la ainda mais fina e requintada. Nada
perde com isso; pelo contrário, só tem a ganhar. Um homem culto é, naturalmente,
um ser superior, também, e sobretudo, porque é extremamente bem educado. Aliás,
as normas de boa educação devem fazer parte integrante da sua formação.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por isso, seria
bom que de novo se ensinassem nas escolas públicas, como outrora era norma nos
colégios privados, noções de cortesia, de civilidade ou de urbanidade, de bem
maior utilidade prática para os nossos alunos do que algumas disciplinas
esotéricas que a ninguém aproveitam e ninguém entende. Desde sempre a boa
pedagogia soube defender a necessidade de incutir nos jovens as correctas
normas de sã convivência social que revelassem respeito e consideração pelo
próximo, evitando, assim, a linguagem agressiva e insultuosa que hoje parece
ser regra e norma comum, fruto da moderna frontalidade, que os faz regressar à
selva profunda, com os urros e grunhidos das manifestações a que,
lamentavelmente, já estamos habituados.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas não são apenas
os mais novos que devem ser alvo de uma educação correcta que os torne gente
civilizada. Parece que mais necessitam alguns adultos que bem ganhavam em ler,
com mão diurna e nocturna, as cartas de Cícero que, com toda clareza, nos
transmitem o que já os romanos sabiam: distinguir a linguagem do camponês –<i style="mso-bidi-font-style: normal;">rusticus </i>– da do homem bem educado que
vivia na cidade - <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>urbanus</i>. Conheciam, por isso, a cortesia –
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">comitas</i> – e a arte de ser amável, ou
seja, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">humanitas</i>. Pois não lhes era
então estranha a vida de sociedade – a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">urbanitas</i>
-, porque possuíam aquilo a que os atenienses chamavam a elegância da boa
convivência.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas hoje parece
que a grosseria, a boçalidade e a má criação são a regra de oiro de alguns
homens públicos, apoiados e até instigados por jornalistas de igual teor. A
linguagem avinhada tornou-se, nalguns casos, a anormal norma com que bolsam
insultos e revelam em toda a sua plenitude a falta de nível, de cultura, de inteligência
e, acima de tudo, de educação. Portugal esteve, há pouco mais de um quarto de
século, à beira de ficar com uma <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">linguagem
de caserna</b>. Parece que agora caminha a passos largos para uma <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">linguagem de taberna</b>. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw7yS953GZjdtPgz49OIjHAbs9jzS5fxiVgzPQ8ExPSx5KQBv4SlZLhHx7cd4zSS8Dy58jap5T7XVPaw0JSY0i7n0U1A866qaEQXBwPUhAk4ownFHzZN1n6OCcgcKaMy7v_xxavx05WUw/s1600/Da+Educa%C3%A7%C3%A3o,+Almeida+Garrett+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw7yS953GZjdtPgz49OIjHAbs9jzS5fxiVgzPQ8ExPSx5KQBv4SlZLhHx7cd4zSS8Dy58jap5T7XVPaw0JSY0i7n0U1A866qaEQXBwPUhAk4ownFHzZN1n6OCcgcKaMy7v_xxavx05WUw/s320/Da+Educa%C3%A7%C3%A3o,+Almeida+Garrett+001.jpg" width="195" /></a></div>
</div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-45079552586503487882013-10-13T13:24:00.000-07:002013-10-13T13:24:40.223-07:00
<br />
<h2 style="margin: 10pt 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #4f81bd;"><span style="font-family: Cambria;">1936, ANO DA FÉ<o:p></o:p></span></span></span></h2>
<br />
<o:p><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
</div>
<span style="font-family: Calibri;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-fItF2POuMo_Nauvelfdw84LWX_VEuh5UOo1evV9st9qXGpSxYHnDt6a83Ify3y8Yqb1W_cLgz5SDzgkJwYJr3rSK9HjnqRklzLeYNj_d0c4n6JOZuAgb37tezrx8IIUEw-WlWtH2Wgw/s1600/Anjos+a+voar+na+igreja+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-fItF2POuMo_Nauvelfdw84LWX_VEuh5UOo1evV9st9qXGpSxYHnDt6a83Ify3y8Yqb1W_cLgz5SDzgkJwYJr3rSK9HjnqRklzLeYNj_d0c4n6JOZuAgb37tezrx8IIUEw-WlWtH2Wgw/s320/Anjos+a+voar+na+igreja+001.jpg" width="230" /></a></div>
</span></o:p>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>13 de Outubro de
2013, cidade espanhola de Tarragona. São beatificados 522 mártires, ou seja,
mais de meio milhar de católicos assassinados <u>in odium fidei</u>, pelos
republicanos e “rojos” espanhóis, em plena Guerra Civil e na zona que eles
próprios controlavam, através do terror e da maior perseguição religiosa que
ocorreu, em todo o século vinte, na Península Ibérica. Feroz perseguição
religiosa que, para qualquer historiador sério, começou em 1931 mas ganhou
foros de verdadeiro holocausto católico a partir de 1936.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O historiador
inglês Paul Johnson afirmou que “ para os republicanos a Igreja católica era o
alvo principal do ódio…” Para G. Jackson, “ os primeiros três meses da guerra
foram o período de máximo terror na zona republicana…. Os sacerdotes… foram as
principais vítimas de puro gangsterismo.” Stantley G. Payne chegou a dizer que
“ a perseguição à Igreja católica foi a maior jamais vista na Europa ocidental,
inclusive nos momentos mais duros da Revolução Francesa”. E acrescenta: “
Durante a Guerra Civil o único grupo marcado para o extermínio foi o clero”. H.
Thomas diz-nos também que “ possivelmente em nenhuma época da história da
Europa, e provavelmente do mundo, se manifestou um ódio tão apaixonado contra a
religião e tudo o que com ela está relacionado”.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>De facto, esta sistemática
perseguição religiosa que, segundo outro autor – G. Hermet – reveste um
carácter de verdadeiro massacre, não incidiu apenas sobre bispos, sacerdotes,
religiosos e religiosas, leigos comprometidos na acção pastoral ou simples
fiéis que foram sumariamente executados ou vítimas de inauditos suplícios, por
não renunciarem à sua fé, acreditando até à morte no seu único e verdadeiro
Deus, o Deus católico, uno e trino. Mas foi também um ataque organizado contra
a tradição e os símbolos religiosos, a destruição de bens culturais de valor
incalculável, como bibliotecas e obras de arte, o incêndio de igrejas, a
destruição de monumentos religiosos, como o monumento ao Sagrado Coração de
Jesus, em Madrid – previamente “fuzilado”, antes de ser dinamitado -, e até,
macabramente, a profanação de sepulturas e de cemitérios. O ódio cego à Igreja
católica queria substituir a expressão de F. Nietzche, “ Deus morreu”, pela de
Tatiana Goritcheva, “ Deus foi executado”.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em Toledo, o poeta
sul-africano Roy Campbell, nesse ano da fé de 1936, viu morrer como mártires os
seus amigos carmelitas que lhe tinham confiado a guarda dos preciosos
manuscritos de S. João da Cruz, que mais tarde traduziu admiravelmente para
inglês. Por toda a Espanha, sob o governo da Frente Popular – formado por
socialistas e comunistas -, foram milhares os que tombaram nobremente, num
autêntico holocausto católico, gritando, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Viva
Cristo Rei!</i>, como os “cristeros” no México nos anos vinte – 1926-1929 -
também eles vítimas do mesmo ódio à fé.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E é ouvindo esse
grito arrepiante, por entre o contínuo metralhar que tudo mata e destrói, esse
grito que brada aos céus, que me vêm à memória os versos de Paul Claudel – do
poema <u>Aos mártires espanhóis</u> -, como salmos que se rezam, como contas de
um rosário: <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Onze bispos, dezasseis mil sacerdotes
massacrados e nem uma só apostasia.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ah! Oxalá pudesse dar, como tú, em voz
alta, um claro testemunho, no esplendor do meio-dia.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">1936 é, pois, um verdadeiro Ano da Fé. Que convém lembrar, quando
se encerra o actual<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ano da Fé instituído
pelo Papa emérito Bento XVI. Que convém lembrar, quando em várias partes do
mundo, sobretudo em África e na Ásia, os católicos continuam a ser vítimas
indefesas de esse cobarde ódio à fé. Perante o beneplácito da comunidade
internacional que, muitas vezes, também o incita activamente atacando a Igreja
e os seus legítimos representantes, através de mentiras e de falsidades. Cobardemente.
Porque sabem que, tal como na Guerra Civil espanhola, os católicos que morrem
vítimas de perseguição perdoam aos seus inimigos e, no seu último alento, ainda
rezam por eles.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW-WuBs5WROotyN23zOPg90iJVsTFMziXB0wqGYiawEpMAGwsVJq613mkTXEVCsQLP5auROvg1ZXsiNhXagOGMyOFsFOzXPYxnZs2_Wew-u0wwYQdzqQhyphenhyphenJlSHbIv_KpNa68tp4iGyCio/s1600/1936,+ano+da+f%C3%A9+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW-WuBs5WROotyN23zOPg90iJVsTFMziXB0wqGYiawEpMAGwsVJq613mkTXEVCsQLP5auROvg1ZXsiNhXagOGMyOFsFOzXPYxnZs2_Wew-u0wwYQdzqQhyphenhyphenJlSHbIv_KpNa68tp4iGyCio/s320/1936,+ano+da+f%C3%A9+001.jpg" width="205" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-fItF2POuMo_Nauvelfdw84LWX_VEuh5UOo1evV9st9qXGpSxYHnDt6a83Ify3y8Yqb1W_cLgz5SDzgkJwYJr3rSK9HjnqRklzLeYNj_d0c4n6JOZuAgb37tezrx8IIUEw-WlWtH2Wgw/s1600/Anjos+a+voar+na+igreja+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-69639683773239533892013-10-06T14:47:00.000-07:002013-10-06T14:47:39.115-07:00
<br />
<h1 style="margin: 24pt 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd2_PThrX1M2qoLv4DbvKAki4BY51a440QRik2-v4aXYNQy4U2BP1cEpv9qBSCtI7YB0eyAK3t6cypDHhmQutPTyDakkGYAKI3oXYeeuG1P_QnCDDzjzrf6NPUAKIfQt4LybatS3rnNLY/s1600/$T2eC16ZHJGYE9noojcFSBSR4DB42Gw~~60_35.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
</span>REGRESSO ÀS AULAS<o:p></o:p></span></span></span></h1>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0L7vGsLKEMn-65xhdfrdHqWGlCXtslSHjgNvh4TViNNadgmrNDz3qVMbf_sM09custiweEZXNNSAo__9tkc8-ab-4jVNTsxQX_46h6Ejxm-Qj4-a7ezwhEAw_wgWeSAY727iCP31qF3w/s1600/mDs7rpv2hwJRzC0DVT3qdaA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0L7vGsLKEMn-65xhdfrdHqWGlCXtslSHjgNvh4TViNNadgmrNDz3qVMbf_sM09custiweEZXNNSAo__9tkc8-ab-4jVNTsxQX_46h6Ejxm-Qj4-a7ezwhEAw_wgWeSAY727iCP31qF3w/s1600/mDs7rpv2hwJRzC0DVT3qdaA.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Antigamente a escola era risonha e franca…<o:p></o:p></span></i></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Acácio Antunes<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No autocarro,
sentou-se ao meu lado um senhor com uma cara tão triste, tão triste, que só de
olhar para ele dava vontade de chorar. E foi nesse estado de ânimo que entrei
em casa, com a imagem de esse velho de bigode murcho a matraquear-me a cabeça e
as lágrimas, só de me lembrar dele, a saltar-me dos olhos, como se tivesse
vindo de um velório. Tinha acabado de tirar o casaco, quando senti bater à
porta. Estremeci, quase sem querer, imaginando que o diacho do velho me tinha
seguido, para se certificar do meu estado de ânimo e da minha capacidade de
choro.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tive sorte. Em vez
da tristeza ambulante, saiu-me na rifa um velho companheiro do saudoso Liceu D.
João III, alegre e folgazão, que vinha tirar dois dedos de conversa e saber, de
forma naturalmente discreta, se ainda tinha aquela garrafita de Porto, ou
alguma alma gémea, que tão boa companhia nos fizera na semana passada.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi um bom
remédio. A tristeza foi desaparecendo à medida que se esvaziava a garrafa e ele
contava histórias do tempo do liceu. Dos colegas, dos contínuos mas, sobretudo,
dos professores. O professor de História era um senhor já de idade, que
escrevia artigos para um jornal da terra, e dava pelo nome de um conhecido
escritor italiano: o célebre autor de <u>As minhas prisões</u>. A rapaziada não
o levava muito a sério e nos pontos escritos, sabendo de antemão que nunca os
lia, aproveitava para fazer relatos de futebol, contar anedotas ou inventar
histórias do arco-da-velha. À cautela, lá ia respondendo, sempre de forma vaga
e difusa, à primeira questão, sobretudo na primeira página. Mas sem se esforçar
muito.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ora sucedeu,
contava entusiasmado o meu amigo, que um dia o pai foi chamado ao reitor. Na
sala encontrava-se também o professor de História que se pôs a dizer que não
admitia que os alunos gozassem com ele e lhe faltassem ao respeito. Dera-se o
caso, verdadeiramente inédito, de ter lido todo o ponto do meu velho amigo do
liceu. O desgraçado tinha respondido à segunda questão – “ Descreve as
cerimónias do Feudalismo” – relatando, com grande vivacidade e abundante cópia
de pormenor, o último jogo da Académica no Estádio Municipal. Achou o mestre –
e muito provavelmente com razão – que a resposta era completamente inadequada e
verdadeiramente anacrónica. Mas muito mais do que isso, considerou-a uma
ofensa. O pai do infeliz aluno, concordando embora com o sábio professor, lá
foi desculpando o rapaz, dizendo que se calhar não era só ele que respondia
assim, que lesse o mestre também as outras provas… Que não! Teimava o
professor. Que as tinha lido todas e só ele, e apenas ele, cometera essa
afronta! E o pai do meu amigo lá tornava e retornava a pedir desculpa,
acrescentando que tivesse a certeza que o seu filho não voltaria a tomar essa
atitude.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>À cautela, quando
chegou a casa, deu-se o mestre ao cuidado de ir, de facto, ler os outros pontos
dos rapazes. E não é que então, e só então, é que se deu conta do que há anos
vinham fazendo? <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas ainda havia
mais. Vivia-se então na época de ouro das chamadas orais. O professor pegava na
caderneta, esse pequeno instrumento de suplício, folheava-a, pausadamente,
parando de quando em quando para ver a reacção do auditório, e disparava, de
repente, um número ou um nome, que era motivo de sobressalto no visado e de
alívio e de satisfação nos restantes. Ora este distraído mestre costumava
anotar nas folhas da caderneta o nome da pessoa amiga que lhe recomendava os
rapazes. Não se esquecia, assim, de quem lhe tinha feito o pedido e sempre era
mais fácil para dar as notas no final do período. Porém, um belo dia, para
espanto de toda a turma, acertando embora no número, enganou-se no nome,
trocando as linhas, e, sem se aperceber do erro, disse numa voz fanhosa que se
ouviu em toda a sala: “Vem hoje à lição o número cinco, Sua Excelência
Reverendíssima o Senhor Arcebispo-Bispo-Conde, D. Ernesto!”</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd2_PThrX1M2qoLv4DbvKAki4BY51a440QRik2-v4aXYNQy4U2BP1cEpv9qBSCtI7YB0eyAK3t6cypDHhmQutPTyDakkGYAKI3oXYeeuG1P_QnCDDzjzrf6NPUAKIfQt4LybatS3rnNLY/s1600/$T2eC16ZHJGYE9noojcFSBSR4DB42Gw~~60_35.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd2_PThrX1M2qoLv4DbvKAki4BY51a440QRik2-v4aXYNQy4U2BP1cEpv9qBSCtI7YB0eyAK3t6cypDHhmQutPTyDakkGYAKI3oXYeeuG1P_QnCDDzjzrf6NPUAKIfQt4LybatS3rnNLY/s1600/$T2eC16ZHJGYE9noojcFSBSR4DB42Gw~~60_35.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></span> </div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-2444957264002667502013-09-29T11:23:00.001-07:002013-09-29T11:23:18.254-07:00O VALOR DA MEMORABILIA
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix0NCdUcIf69PYQTPX2UdAUlGNpD8nBNIzFpKUgj3M-ktpS3FgZ1hGi9N3wh63KOOS2ZmUVRgFSfjXy7Ywz8ArF5cfQ6vq-mrv3xtl-uEZOr3Ls8brAHy6qclKJVHkH_Tu0-ueZK8y0W8/s1600/O+valor+da+memorabilia+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix0NCdUcIf69PYQTPX2UdAUlGNpD8nBNIzFpKUgj3M-ktpS3FgZ1hGi9N3wh63KOOS2ZmUVRgFSfjXy7Ywz8ArF5cfQ6vq-mrv3xtl-uEZOr3Ls8brAHy6qclKJVHkH_Tu0-ueZK8y0W8/s320/O+valor+da+memorabilia+001.jpg" width="223" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No final dos anos
cinquenta do século passado foi publicado em França um livro de Maurice Rheims
sobre o coleccionismo que rapidamente se tornou famoso. Intitulava-se <u>A
estranha vida dos objectos</u> e ia ao encontro do gosto de coleccionar, do
bichinho de guardar peças de memorabilia ou simples recordações de viagens que,
quase como uma doença, entrou nas melhores famílias e passou, com naturalidade,
a fazer parte da vida de quase todos nós, transformando as nossas casas em
álbuns de recordações.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Também a minha
casa é um álbum. Espalhadas por móveis e paredes há recordações de viagens e de
amigos, de velhos parentes que quase não conheci e de figuras históricas que do
passado vieram ter comigo para assim penetrar alegres nos umbrais do futuro.
Fazemo-nos boa companhia. E ora falo com uns, ora converso com outros, como se
os visitasse na sua própria casa e não na minha. Têm todos o seu cantinho, o
seu espaço próprio, a sua zona residencial. Quando lá chego, não bato à porta
nem peço licença para entrar, mas sinto-me como se vivesse noutro lugar e
noutro tempo: sinto mesmo no ar um microclima, carregado de sentimentos e de
profundas emoções.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A minha casa é um
álbum. Viro a esquina do corredor como quem desfolha páginas, pois cada parede
traz consigo miríades de imagens que se escondem por detrás de uma fotografia,
de um relógio, de um prato, de uma gravura antiga. E em cima de cada móvel há
objectos que contam histórias sem cessar, lembram rostos que não esquecem,
paisagens deslumbrantes, viagens sem ter fim.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A minha casa é
como um álbum vitoriano. Tenho necessidade de povoar todo o meu espaço de
objectos que me digam alguma coisa, que embora inertes tenham vida, que tragam
dentro de si alguma história e passem serões de inverno ou tardes cálidas de
verão a falar para mim, a fazer-me companhia. Quando olho para todos eles,
espalhados quase ao acaso por móveis e recantos, lembro-me de pessoas e de
locais, vêm-me à memória dias precisos e horas certas, como se tivesse sido há
pouco, momentos antes de entrar em casa. É que a nossa vida é um mosaico, feito
de pedaços que só nós próprios sabemos encaixar.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A minha casa é um
álbum. Precioso álbum que só eu conheço e de que sei o significado. Precioso
álbum que guardo a todo o custo, como criança adulta que não quer perder tantos
sonhos passados e futuros. Mas mais do que dormir com ele, bem agarrado,
debaixo dos lençóis, para que ninguém mo tire, vivo com ele e dentro dele.
Tanto faço parte dele como ele faz parte de mim. A minha casa é um álbum. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuxnvElIMZS9YFWo6SG99mWhWsMK7sU_2s6ekSTdyQzm8z5HSJqL9ZVR412CmiHqgs3BglPL2tBKx6dR72dW1sH7o-9kPag4EzgwwbvdNG0Y8-9rpX9IrcU_RJ6BMZGq2Bt_6YJ0atnUU/s1600/A+estranha+vida+dos+objectos+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuxnvElIMZS9YFWo6SG99mWhWsMK7sU_2s6ekSTdyQzm8z5HSJqL9ZVR412CmiHqgs3BglPL2tBKx6dR72dW1sH7o-9kPag4EzgwwbvdNG0Y8-9rpX9IrcU_RJ6BMZGq2Bt_6YJ0atnUU/s320/A+estranha+vida+dos+objectos+001.jpg" width="190" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></span> </div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-57014225155709460372013-09-22T06:58:00.002-07:002013-09-22T07:02:25.175-07:00O Prazer da Leitura<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3BLgMZPPmi2wpPg0YCSXgQuqT_unFESUzjJTDPX8BsLyFKFSbAZ5RFGdCP8vZVBFhTQhJymIH4LqVqgiyk2Ad2whV1JwRTqB04lYnM77OvpLHocMUGfo_WTi0x5wPvXmIJrkcakINKHI/s1600/O+Prazer+da+Leitura+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3BLgMZPPmi2wpPg0YCSXgQuqT_unFESUzjJTDPX8BsLyFKFSbAZ5RFGdCP8vZVBFhTQhJymIH4LqVqgiyk2Ad2whV1JwRTqB04lYnM77OvpLHocMUGfo_WTi0x5wPvXmIJrkcakINKHI/s320/O+Prazer+da+Leitura+001.jpg" width="220" /></a></div>
<strong></strong><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Bodoni MT Black","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="mso-spacerun: yes;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há amigos que estão sempre
disponíveis, esperam por nós a qualquer hora, andam connosco na rua sem
vergonha e muitas vezes, quando, sentados, os trazemos ao colo como se fossem
crianças, somos nós que adormecemos, e não eles. São os livros. Mal entro em casa,
sinto-os a cumprimentar-me das estantes, com olhar grave e pose doutoral, os
autores de teses, pesadas e maçadoras, que tão úteis são para as noites de
insónia; com um sorriso discreto, como quem reencontra um velho amigo, os
escritores clássicos que contam com nova graça as velhas histórias e, por isso,
se lêem e relêem sempre com prazer; a esbracejar, querendo saltar
da prateleira e vir a correr ao meu encontro, as mais recentes aquisições,
desejosas de entabular conversa, de me dar notícias frescas, de me pôr a par
das últimas novidades.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
Deixo-os a todos e sigo. Sobre a mesa de trabalho espera-me, com uma fidelidade
canina, o livro que ando a ler e que sinto vibrar de alegria quando lhe pego na
lombada e lhe viro as páginas, afagando-o com amizade e ternura.</span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
Lembro-me, então, da tese de Marshall McLuhan, o famoso autor de <u>A Galáxia
de Gutenberg</u> que, nos idos de 1962, prenunciava a morte antecipada do
velho e fiel livro que, teimosa e continuamente, nos acompanha ao virar das
páginas de este livro maior que todos lemos e em que todos participamos que é o
Livro da Vida. Hoje até para os mais pequenos há falsos livros, coloridos e com
música, que os bebés folheiam no banho, a fingir que já lêem, como os adultos
fazem, mesmo os analfabetos.</span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
Tive um amigo que vivia numa biblioteca. Ou melhor, fez da sua casa uma
autêntica biblioteca tal era a profusão de estantes e de livros que o
acompanhava, e nos acompanhava, pela casa fora. As suas conversas começavam num
livro ou nele acabavam irremediavelmente. Conversas que tinham o condão de fazer
parar o tempo, de tirar a corda aos relógios que ficavam –também eles – de
ouvido à escuta e olhos bem abertos, sequiosos de esse discurso animado e
encantatório que nos seduzia e cultivava permanentemente.</span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
Havia nele uma relação de fidelidade amorosa com os livros que conhecia como
ninguém. Mas uma das suas grandes paixões era coleccionar livros de armar ou de
lingueta que procurava com todo o afã quando visitava as livrarias ou adquiria
em lojas especializadas que descobriu, sobretudo em Londres, e de que era
freguês habitual. Iluminava-se-lhe o rosto, com um sorriso de menino grande,
brilhando-lhe os olhos de contentamento, quando mos abria com renovado cuidado
e carinho. Era como se fosse de novo criança, com o prazer a escorregar-lhe por
entre os dedos.</span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">
No Natal, a casa era um presépio vivo em livros de armar abertos por toda a
parte. Livros de armar com presépios de papel, que se espalhavam por todo o
lado: nas mesas, nas prateleiras, em cima das estantes e até pendurados em candeeiros.
Era como entrar directamente na gruta de Belém, uma gruta de papel dentro de
livros, abertos de par em par. Um verdadeiro festim para os olhos. Porque é
pelos olhos que vemos e é pelos olhos que lemos. </span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
</span></div>
</span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
</span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-47895163596550964392013-09-13T15:53:00.000-07:002013-09-13T15:53:12.679-07:00UM ESCRITOR PROIBIDO<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnJMBuJO2_A0Sj6cMV0DNtf4l8LR4pFPTNARn-iyEibqQlBe35h0Xlw3TbvYkDWv7ZdgaXHSVWTNyADUeMV6_7Mu5DId9MUOdgipK20v57OxKjp21DbXX0DUsO5FR6-3Z96uO6Ggpv3Sg/s1600/Cela+de+Steinhardt+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnJMBuJO2_A0Sj6cMV0DNtf4l8LR4pFPTNARn-iyEibqQlBe35h0Xlw3TbvYkDWv7ZdgaXHSVWTNyADUeMV6_7Mu5DId9MUOdgipK20v57OxKjp21DbXX0DUsO5FR6-3Z96uO6Ggpv3Sg/s320/Cela+de+Steinhardt+001.jpg" width="226" /></a></div>
<h1 style="margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"></span></o:p> </h1>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Peço ao leitor, benevolente e amigo, que
encoste a porta e não acenda a luz, pois vou falar-lhe hoje de um escritor
proibido. Proibido apenas entre nós, em nome de uma cultura pequenina e
rasteira, que mal se vê porque não cresce e não cresce para que não se veja.
Falo de um notável escritor romeno, praticamente desconhecido pelos nossos
diligentes e apressados intelectuais, autor de um livro inesquecível e
verdadeiramente arrebatador: <u>O Diário da Felicidade</u>, de Nicolae
Steinhardt (1912-1989).<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A felicidade, descobriu-a Nicolae
Steinhardt no seu lugar de origem, dentro de si mesmo, naquilo a que
Ollé-Laprune chamou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">as fontes da paz
intelectual</i>, quando viajava de prisão em prisão, no universo
concentracionário romeno do período comunista. E relata-nos essa viagem, sem
rumo nem destino, em que nunca perdeu a dignidade, nem traiu companheiros, nem
amigos, nem guardou rancor, nem alimentou qualquer espírito de vingança. Num
diário escrito, naturalmente, a
posteriori, pois nunca lhe foi permitido o uso de papel e de lápis. Num
diário sem sequência cronológica, apenas de memória, mas de uma riqueza
cultural e humana verdadeiramente admirável.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É certo que não há uma norma para a
redacção de um diário, mas o livro de Nicolae Steinhardt é também uma autêntica
história da cultura em que se cruzam livros, escritores, poetas, músicos,
artistas, não só romenos mas de toda a cultura e que servem de tema e viva
discussão entre aqueles que habitam transitoriamente a mesma cela. Espantosa
cultura que o Autor revela e no-la transmite serenamente como se estivesse
ainda sentado na carcomida tarimba de uma triste e miserável prisão. Uma obra
digna e comovente, a que não faltam traços de fino humor, que a superior
personalidade do escritor romeno deixa por vezes escapar por entre um sorriso
maroto que lhe escorrega dos olhos e foge até nós por entre as grades da
própria cela. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pois esta obra, meu caro leitor atento e
amigo, foi naturalmente apreendida e sofreu nova redacção, pacientemente
refeita pelo escritor romeno, de origem judia, que na prisão se converteu ao
Cristianismo, tendo recolhido mais tarde a um convento ortodoxo. Aí lhe
apreendeu a Securitate o manuscrito que, entretanto, já tinha sido enviado a
bom recato. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A sua publicação, em 1991, na Roménia,
obteve um êxito extraordinário com uma tiragem de 200.00 exemplares. Traduzido
imediatamente em várias línguas ( francês, italiano, hebraico, húngaro, grego,
castelhano, português (Brasil), inglês, etc. ) viu as suas edições esgotarem-se
rapidamente, tornando-se, obviamente, numa obra de referência da cultura romena
e ocidental. Nicolae Steinhardt pertenceu a uma geração de grandes intelectuais
romenos, bem conhecidos no Ocidente, como Constantin Noica, Mircea Eliade, Emil
Cioran, Eugen Ionesco, Vintila Horia, Virgil Bulat e tantos outros.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entre nós, amigo comum, conseguiu há anos,
através do Instituto Cultural Romeno em Lisboa, obter do Mosteiro de Rohia, que
detinha os direitos de autor do escritor romeno, autorização para a publicação
da obra numa conhecida editora portuguesa. Mas o director da colecção a que se
destinava <u>O Diário da Felicidade</u>, um Importante de Melo, quando viu que
Nicolae Steinhardt era um escritor de superior cultura e, por isso e só por
isso, tinha sido vítima da perseguição comunista, recuou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">corajosamente.</i> Ficámos, assim, sem uma edição portuguesa.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Resta, ao leitor interessado e amigo, a
edição brasileira, se a conseguir adquirir, pois está praticamente esgotada.
Aquando da sua edição, foi <u>O Diário da Felicidade</u> considerado o livro do
ano no Brasil. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Naturalmente.
Unanimemente elogiado pela crítica internacional que nele viu uma verdadeira
obra-prima ou, no dizer do crítico romeno Dan Chelaru, “ um livro contemporâneo
de Deus”, foi, pelo Importante de Melo, proibido entre nós.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim vai a cultura em Portugal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"></span> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRsn98L8BV2rPcVGoDYzoJ4tcG0uZQOKQwTBNE-AeE4XlKWzwH5Gtg6DRWBd5j_lgc0GVPwzfEZhMZ35K9K4xliZsySAAjOC8qZBPmOsoQlQzj_fd-ThFk3PtLrLaDbC7DljiUI5jocYs/s1600/O+Di%C3%A1rio+da+Felicidade+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRsn98L8BV2rPcVGoDYzoJ4tcG0uZQOKQwTBNE-AeE4XlKWzwH5Gtg6DRWBd5j_lgc0GVPwzfEZhMZ35K9K4xliZsySAAjOC8qZBPmOsoQlQzj_fd-ThFk3PtLrLaDbC7DljiUI5jocYs/s320/O+Di%C3%A1rio+da+Felicidade+001.jpg" width="230" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 18pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span> </div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-78353934578181033182013-08-25T13:44:00.002-07:002013-08-25T13:46:17.333-07:00Tempo de Mediocracia<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF-WfTVDvCsWEorAhqIO6gOLsu1Mxrj_tOVw_L7XGeT-jQ09N-vG-UUbo96xzFl5AcBEBAHRXG3me65W_j_zwDbQIJQgTtO5R1IHwBCyQBvj5RsZCsWiJo2jMJlEDqBJh6EbEbITlkIQ4/s1600/C%C3%B3mico+ambulante.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF-WfTVDvCsWEorAhqIO6gOLsu1Mxrj_tOVw_L7XGeT-jQ09N-vG-UUbo96xzFl5AcBEBAHRXG3me65W_j_zwDbQIJQgTtO5R1IHwBCyQBvj5RsZCsWiJo2jMJlEDqBJh6EbEbITlkIQ4/s320/C%C3%B3mico+ambulante.jpg" width="224" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Há épocas em que, pela vontade de Deus ou pelos desmandos dos
homens, cai sobre as nações o flagelo da mediocridade. A tradição, que busca no
passado as raízes do futuro, enfraquece. A dignidade nacional, por não
encontrar quem a defenda, emigra. E a Pátria, ferida e exausta, cansada de
enxovalhos e de calúnias, agoniza lentamente. É então que os homens
acomodatícios e medíocres alcançam o poder, convertendo-se o Estado num
mediocracia.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nesta, inverte-se
a natural hierarquia de valores, falseiam-se nomes, desvirtuam-se conceitos. A
sinceridade passa a ser uma idiotice; a verdade, uma loucura; a justiça, um
suicídio; a admiração, uma imprudência; a paixão, uma ingenuidade; o idealismo,
uma cretinice; a virtude, uma estupidez. O país tem de ser visto através das
lentes de quem o governa e ai de quem tenha o arroubo do génio, a virtude do
santo, a coragem do herói!<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É que os medíocres
– estes ou quaisquer outros -<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não têm
voz, mas eco; não falam, repetem; não pensam, plagiam;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não vivem, vegetam; e nem sequer são sombra,
mas penumbra. Cépticos, porque são incapazes de acreditar; modestos, porque não
têm de que se vangloriar; invejosos, porque a sua vulgaridade não pode suscitar
a inveja dos demais. São incapazes de servir um ideal, de tomar uma iniciativa,
de sonhar com o futuro. Têm medo que os apontem a dedo, que profiram o seu
nome, que alguém refira a sua existência. E vivem como contrabandistas, fazendo
contrabando da própria vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acéfalos, pensam
pela cabeça dos outros que seguem servilmente. Acomodatícios, mudam de opinião
tantas vezes quantas as necessárias. Desonestos, mentem pública e
descaradamente, vendendo se for preciso a própria honra ou fechando-a à chave,
para que ninguém saiba que têm aquilo que de facto não possuem. Às vezes,
esforçam-se por vestir a capa da inteligência ou por calçar os sapatos do bom
senso. Em vão. São medíocres da cabeça até aos pés e não há vestuário que lhes
disfarce as mazelas do corpo ou lhes distraia a pequenez do espírito.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas se um dia,
para desgraça das nações, conquistam o poder, logo assumem ares solenes e
grandiloquentes, com discursos longos, repletos de frases rebuscadas, num tom
de voz pretensamente autoritário e forte, com que intentam esconder o imenso
vazio que os consome. E dizem e desdizem, e fazem e desfazem, e mandam e
desmandam.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Combatem o
idealismo que não entendem, a verdade que não alcançam, a inteligência que não
possuem. Deitam pela borda fora o passado que os esmaga, o presente que os
repele, a História que os acusa. Fogem às responsabilidades que não assumem, às
promessas que não cumprem, ao futuro que não constroem. Vivem das palavras que
mastigam, das mentiras que consomem, das asneiras que vomitam. E julgam-se as
luminárias deste século, os heróis da nossa Pátria, os salvadores da
Humanidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E ainda por cima
querem que o futuro lhes reserve uma página, como se a História falasse dos
medíocres.<o:p></o:p></span></span></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-36945636670181684732013-08-17T09:38:00.000-07:002013-08-17T09:38:10.373-07:00MEDITAÇÃO SOBRE O SILÊNCIO <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk0_l6Fi1rxxIiYm07xTpfB7UMDBRepZ9LVfALBCrz3OeUmTZfetWCusxa2Br4gCBrAkyZEgnWBbl9dYvLyNOQaF1Ti9C2ZnWeFXmji739oJ7GExpVIj_5fF3SKIl8KURrmrvxl8SNM8k/s1600/Sil%C3%AAncio+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk0_l6Fi1rxxIiYm07xTpfB7UMDBRepZ9LVfALBCrz3OeUmTZfetWCusxa2Br4gCBrAkyZEgnWBbl9dYvLyNOQaF1Ti9C2ZnWeFXmji739oJ7GExpVIj_5fF3SKIl8KURrmrvxl8SNM8k/s320/Sil%C3%AAncio+001.jpg" width="222" /></a></div>
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><br />
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Escrever sobre o
silêncio é, de certo modo, um contra-senso. Menor, porém, do que falar. Porque
escrever é muitas vezes refúgio de quem não quer comunicar com o próximo mas
consigo mesmo, de quem não pretende dirigir-se a um público amontoado em praças
repletas, mas conversar silenciosamente com o outro eu, livre de olhares
indiscretos, de vozes discrepantes, de remoques grosseiros. De si para si.
Sozinho e silenciosamente.<o:p></o:p></span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Porque pode
falar-se às multidões, indiferente ao arruído de fundo que lhes é peculiar. Mas
a comunicação entre dois seres, distintos ou indistintos, entre mim e o meu
amigo leitor, ou entre a minha inteligência e a minha vontade, o meu cérebro e
o meu coração, requer como condimento necessário e imprescindível o silêncio.
Superior silêncio, porquanto aos homens falta a única virtude que os animais
possuem: a de saber calar – ou não poder falar.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O psitacismo, a
verborreia, a eloquência fácil, a retórica pedante, as bolas de sabão
oratórias, a fraseologia rebuscada, as poses rococó, os discursos, as
conferências, as palestras. Palavras, palavras, sempre palavras. Que moem, que
cansam, que saturam. As mais das vezes, só palavras. Ocas e vazias, nada mais.
Mas o homem gosta. Porque vive, alimenta-se, nutre-se de palavras. Como do pão
e do vinho. E por isso só os doentes, os que estão de dieta, é que se alimentam
do silêncio. Muito embora o considerem iguaria de qualidade superior ou talvez
por isso mesmo.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E como encontrará
o homem o lugar onde mora o silêncio, para fugir ao palavreado constante e
inútil que continuamente lhe azucrina os ouvidos, lhe fere o cérebro, lhe viola
a inteligência? Esse local secreto de que falaram os antigos, foi visitado
pelos modernos e agora ninguém conhece nem faz tenção de conhecer. O silêncio não
tem moradia própria. Qualquer local lhe basta para reclinar sua cabeça e ouvir
nossas confidências. E quando menos se espera, encontramo-lo ao dobrar uma
esquina, ao subir para o autocarro, ao entrar em casa. De manhã. À tarde.
Durante a noite. Pois, quer queiramos quer não, o silêncio persegue-nos
continuamente, pedindo-nos para matar as palavras desnecessárias e improfícuas
que saem aos repelões de nossa boca, tantas vezes incapaz de se fechar, de se
calar, de colar os pedaços de saliva que uniram frases que talvez servissem
para desunir os homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Porque o silêncio
quer andar connosco, viver connosco, acompanhar-nos a todos os locais, sem
receio do incomodativo barulho das pessoas vulgares que, por medíocres, gostam
de se pavonear, de dar nas vistas, de chamar a atenção, até mesmo do sossegado
e calmo silêncio. É que o silêncio deve, por natural direito, habitar dentro de
nós. Não na periferia do nosso ser. Não na epiderme. Mas no cerne da alma, para
que nunca nos deixe. Não há maior desgraça do que ser o homem atacado de
psitacismo, transformando-se num simples e palrador papagaio, descendo, assim,
ao mesmo nível dos animais, mas julgando-se superior aos próprios deuses.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quem melhor fala é
quem se cala, porque é o silêncio divino e é divina a sua linguagem. Deus fala
sempre em silêncio ou, se quiserdes, através do silêncio. Neste tempo de tanta
palavra lançada ao vento como pedra enraivecida, saibamos também nós, serena e
confiadamente, escutar o silêncio. Divino silêncio. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-66601880721776145072013-08-07T19:27:00.002-07:002013-08-07T19:27:24.354-07:00A Menina do Futuro<h1 style="text-align: center;">
<span lang="PT" style="font-size: 24.0pt; line-height: 115%;">A MENINA DO FUTURO<o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> É fim de
tarde. Há menos gente na praia. Vejo um jovem casal com uma menina com um
chapéu de palha e uma fitinha vermelha. Parece que está a começar a andar.
Segura-a o pai pelos bracitos, não tira a mãe os olhos dela. E lá vai ela,
devagarinho, pezito aqui, pezito ali, pezito aqui, pezito ali, pezito aqui,
pezito ali… Ai!, catrapus! Caiu na areia. Foi-se o chapéu, roubou-o o vento. Lá
vem a mãe toda aflita, não vá chorar a pequenita. Ficou sentada no chão da
praia. Feliz da vida, toda contente. Brinca com a areia, sorri para a gente.
Levanta-a o pai, com todo o jeito. Põe-lhe o chapéu de novo a mãe, compõe-lhe a
fita. E lá vai ela pela praia fora, toda contente, toda catita, pezito aqui,
pezito ali, pezito aqui, pezito ali… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Vejo-a de
longe a andar na praia. E fico a pensar que esta menina é o futuro que nós
levamos também pela mão. Que nós levamos, sem darmos conta. Que nós levamos
pelo tempo fora, como a menina que vai além, toda bonita, toda contente, pezito
aqui, pezito ali, pezito aqui, pezito ali…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBNj_mVyPStqmmPCuAwHLQ5TgRwmSsQ8kIlaN8EF3yme1M-kFumYIDfa7VGGc_Vz_zF207Iq8p6dgcNwEXO_9mVajF1G3K4x_uOROExdn3pr5i6mTYyYdqi0ctMqspW8-emBfgArbd7Ek/s1600/A+Menina+do+Futuro+001.jpg" imageanchor="1" style="font-size: medium; line-height: normal; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBNj_mVyPStqmmPCuAwHLQ5TgRwmSsQ8kIlaN8EF3yme1M-kFumYIDfa7VGGc_Vz_zF207Iq8p6dgcNwEXO_9mVajF1G3K4x_uOROExdn3pr5i6mTYyYdqi0ctMqspW8-emBfgArbd7Ek/s320/A+Menina+do+Futuro+001.jpg" width="246" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"></span></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-48995098097030139062013-07-28T23:19:00.001-07:002013-07-28T23:20:01.452-07:00À Sombra de Tomaz de Figueiredo<h1 style="margin: 24pt 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfrptv8NcDgpSYu5Gdz8f5UbZ2l_y4z4RiDKbkbpuWlG-bpusddM3wntNSJAMFXoQJqVo97jVCnvCb_x-9ndPH_8sftnL5B-KZQgf7VUMQAjUNUC6UsFJ364IoKUA-nHCah8eZGO2DV4U/s1600/La+lettura+001%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img bba="true" border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfrptv8NcDgpSYu5Gdz8f5UbZ2l_y4z4RiDKbkbpuWlG-bpusddM3wntNSJAMFXoQJqVo97jVCnvCb_x-9ndPH_8sftnL5B-KZQgf7VUMQAjUNUC6UsFJ364IoKUA-nHCah8eZGO2DV4U/s320/La+lettura+001%5B1%5D.jpg" width="245" /></a></div>
</span></span></span></span><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dizem que se deve beber muita água nestes dias em que o calor aperta e o Sol queima mais. Que a cultura é como água fresca e cristalina, a jorrar das sombreadas fontes, e que tão bem nos sabe quando o mercúrio trepa nos termómetros, muito lesto e gaiteiro, a pedir roupas leves e serenidade e calma no andar, espaçado e lento, mais recolhido à sombra do que ao Sol. Tem a cultura a pureza da água que gulosamente se bebe e que percorre veloz o nosso corpo numa viagem de vida e de prazer que mata a sede e o cansaço afasta. Se temos de beber muita água, temos também de ter a cultura sempre à mão, cristal de primeira água, levando-a connosco para nos dessedentar da estupidez que nos abafa, da ignorância que ferve, da burrice que queima.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sigo, por isso, religiosamente a prescrição médica e vou ter com Tomaz de Figueiredo em busca de essa água límpida e pura que sai a borbotar dos seus livros e que bebo em copázios de meio quartilho, daqueles antigos, que na minha infância no Minho vi, e me levam, com ele e nele, de volta a essas terras de boa gente e sólidos ares que a peste da politiquice ainda não destruiu de todo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quem não gostava de passar uns dias numa casa antiga e bem portuguesa, de mesa farta e de amizade fraterna e franca, conversadeira e descuidada, sem curar do tempo, que só por algumas velhas fisgas das portas, a medo, se escoa, também ele aí amesendado, nessa casa que tão bem conhece, e onde parece que a espaço vemos embalado nessa cadeira de baloiço, estimada herança do avô de quem todos se lembram e de quem todos falam? Venha daí comigo, leitor atento e amigo, e não se preocupe com a bagagem, o transporte, ou a própria viagem que pode parecer cansativa e longa, pois, como vai ver, nada custa e bem agradável se torna. Basta-lhe apenas pegar num livro, ou melhor, em dois, já que não creio, e com toda a honestidade o digo, que depois de ler o primeiro não fique aguado por não ler o segundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas não pense o leitor que <u>A Toca do Lobo</u>, pois é esta obra que tenho entre mãos é – e aqui desdigo o meu amigo Tomaz – um “romance estático”, isto é, parado. Faça o favor de ler comigo e dê-se conta da vida que percorre as suas páginas, das aventuras em que nos faz participar, do permanente contacto com a Natureza em que estamos envolvidos, levados sempre, de escantilhão, pelo Autor. Logo a abrir, nesta pequena citação: “ Caçar, pescar, escrever no intervalo algumas páginas de memórias – ferro em brasa… -, ler algum livro ou reler algum antigo: reler e reler o Padre António Vieira, seu professor da Fé e seu professor de Indignação. De mês a mês, algum capítulo mais do livro que tanto ambicionava acabar – que tinha de acabar! – sobre a lição de homem livre que através a vida e obra o excelso jesuíta legara. A leitura do Padre António Vieira levava-o até a ranger os dentes de entusiamo e de fúria. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(Prenderam-se os pastores e soltaram-se os lobos, e não tem Cristo quem acuda pelo seu rebanho. – Se eu escarrara vermelho e me deixaram falar claro, dera por bem empregado o sangue. – Até a esperança se nos tolhe, que é o último alívio que ninguém tirou, na mais triste fortuna, aos mais desafortunados. – Sobre as obrigações do vassalo, tenho as que devo aos mortos e as que devo aos vivos. – Os que têm nome e baptismo de cristãos, muitos o receberam sem saber o que recebiam.- Como temo que a babilónia Europeia seja Babilónia na confusão, não o sendo nos muros nem nos defensores. – É<a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a> necessário governarmo-nos com a espada sempre na cinta e com a balança na mão, pesando os poderes de todos os príncipes e fiando-nos só do próprio. – Das felicidades que Deus tem aparelhadas a Portugal estou sempre certo, com a mesma firmeza, mas, antes delas, não sei se nos quererá Deus purificar com algum açoite, pois nós não o fazemos com a emenda.)</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Que espantoso capitão de almas, o Padre António Vieira!”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E que espantoso escritor, no verdadeiro sentido da palavra, de causar permanentemente espanto – e alegria – não é também Tomaz de Figueiredo! Peço-lhe desculpa, porém, de com esta citação gorda lhe ter interrompido a leitura de <u>A Toca do Lobo</u>. Voltemos à velha casa que respira por dentro os ares sadios e fortes de uma criação nobre e antiga, cujas histórias não podemos deixar de ouvir, trazidas continuamente à memória do escritor.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E não digo que nos sentemos, porque Tomaz de Figueiredo não nos dá tréguas nas aventuras em que nos leva a reboque, nas caçadas por montes e vales e na pesca de essa belíssima truta com quem eu tanto gostava- e se calhar também o meu amigo leitor – de ter uma saborosa conversa, à mesa, no prato, nem que fosse de esmalte e o garfo de ferro, a condizer…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando acabar a leitura de este romance, busque logo outro do mesmo criador de estas figuras que, a partir de agora, fazem também parte de todos nós: <u>Uma noite na Toca do Lobo</u>.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E não se amofine se por lá aparecer a prima D. Maria do Socorro, com o seu cosmorama. Entre no jogo e participe na conversa que a prima, velha solteirona, nos traz, a propósito das famosas vistas do cosmorama que o falecido mano mercara em Paris. Também eu um dia, em Madrid, encontrei num antiquário um cosmorama. E, depois de ter contado e recontado o dinheiro que levava, avancei, todo lesto, para mercar o objecto, desejoso de com ele entrar daí a dias no velho Café Aviz, aos Restauradores, e dizer, ufano, ao Tomaz que tinha, como a prima do Diogo, um cosmorama. Mas lembrou-me o coração que Tomaz de Figueiredo já estava, há vários anos, a ver outros cosmoramas. “Não lho prometia a tia Mariana, pouco antes de morrer? <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(Olha que tens de ir para o Céu, nem que seja preciso eu vir de lá puxar-te por um braço!)</i> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E o cosmorama ficou na Calle Arenal. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRe8wAg4YMqyFnWGGsDB1S-RxyQseHJ4XNHuwaNsjXfxrzsU3v9rM3-B-C91C60ymF1-1iy7o8B79wuzAGzLi94nyKQWBBiRTnW1_ZU-FgRqCYMjSxwXZyfzf2Fe4jgcYlkhhIgxIElXE/s1600/Uma+noite+na+Toca+do+Lobo+001%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img bba="true" border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRe8wAg4YMqyFnWGGsDB1S-RxyQseHJ4XNHuwaNsjXfxrzsU3v9rM3-B-C91C60ymF1-1iy7o8B79wuzAGzLi94nyKQWBBiRTnW1_ZU-FgRqCYMjSxwXZyfzf2Fe4jgcYlkhhIgxIElXE/s320/Uma+noite+na+Toca+do+Lobo+001%5B1%5D.jpg" width="223" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_fwC6msaCKVp_ZuEiDxErNrp5BhnhGnBi2z-0gDIj4xtSTMkpchsUPSaIOeF488vpnzZa8Nablg3zsNIoxxdRqrZSCgnksmngtd1oWgKOzBZUpQ5Bexlb-zrTSHBR185UVSLP818HcQ8/s1600/A+Toca+do+Lobo+001%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img bba="true" border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_fwC6msaCKVp_ZuEiDxErNrp5BhnhGnBi2z-0gDIj4xtSTMkpchsUPSaIOeF488vpnzZa8Nablg3zsNIoxxdRqrZSCgnksmngtd1oWgKOzBZUpQ5Bexlb-zrTSHBR185UVSLP818HcQ8/s320/A+Toca+do+Lobo+001%5B1%5D.jpg" width="229" /></a></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-77826043075311785522013-07-06T13:13:00.000-07:002013-07-07T11:57:30.735-07:00As Novas Índias<br />
<h2 style="margin: 10pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #4f81bd;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwHAd3nBrb4lY_S9ub72JejXIT5YMcEjMAb18GScldT5qWu2o1ScYy1VkQy2bWaflEwzMyon7DokIf4YrWB3AZpqDikjmqyoan-P_bh5sZO6ydWwCUAHtInhAngKepV4QP0RSwYKca4Sc/s1600/Armada+de+Vasco+da+Gama+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwHAd3nBrb4lY_S9ub72JejXIT5YMcEjMAb18GScldT5qWu2o1ScYy1VkQy2bWaflEwzMyon7DokIf4YrWB3AZpqDikjmqyoan-P_bh5sZO6ydWwCUAHtInhAngKepV4QP0RSwYKca4Sc/s320/Armada+de+Vasco+da+Gama+001.jpg" width="199" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB0AJcdIzXiamR4_wnDbQLq2SANuFl0mbNKhebt93HOuc7wUjEJWxtF6WtlkPOln9kwo3X53j4Y2Us41XkkA_1diNU7C0ZQzkjKdguJsx9aLnRAfYFm6ru5dvZD1zgg2VLKqBOg_2qbSk/s1600/Arcanjo+S.+Rafael+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
</span></span></span></span></h2>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A viagem é sempre
uma descoberta e a descoberta implica sempre uma viagem. Viagem iniciática,
reservada apenas a alguns, poucos e escolhidos, sejam pessoas ou nações que
percebem e se apercebem das verdadeiras razões da descoberta e por isso estão
para além do que os sentidos comuns vêem ou a razão humana entende. Há sempre
algo de misterioso e de sagrado na descoberta, no descobrimento de novas
terras, novas gentes e, mais do que isso, novas estrelas e céus, que é como
quem diz, novos tempos e espaços.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Infante D.
Henrique, Mestre da Ordem de Cristo, herdeira da Ordem dos Templários, o
manuelino e toda a sua riquíssima simbologia, a Nau e o Graal, de que nos fala
Dalila Pereira da Costa, ou a descoberta do caminho, do verdadeiro e único
caminho marítimo para a Índia, dos irmãos Gama ( Vasco e Paulo) ligados à Ordem
de Santiago, e cuja frota, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">frota dos
arcanjos</i>, deixa o Tejo a 8 de Julho de 1497, tudo tem profundo carácter
simbólico.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vejamos apenas o
simbolismo da descoberta do caminho marítimo para a Índia, ambição suprema do
monarca português. Vasco comanda a nau S. Gabriel, Paulo da Gama, a S. Rafael,
Nicolau Coelho, a Bérrio, talvez uma caravela, e Gonçalo Nunes, um navio de
víveres que devia ser queimado no decorrer da viagem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A frota era assim constituída por três
arcanjos: S. Rafael, S. Gabriel e Bérrio, o arcanjo inominado, pois a palavra
bérrio, entretanto caída em desuso, significava então arcanjo.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O arcanjo Gabriel,
cujo nome significa “fortaleza de Deus”, é o guardião do tesouro celeste, o
Anjo da Redenção e o supremo mensageiro de Deus. É o Anjo da Anunciação e do
Nascimento, pois anunciou à Virgem que seria a Mãe do Salvador. Deu o nome à
nau que anunciaria a descoberta do novo caminho que daria origem também a uma
nova era: a era pós-gâmica, como lhe chamou o historiador britânico Arnold Toynbee.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O arcanjo Rafael,
cujo nome significa “remédio de Deus”, é o chefe dos anjos custódios e o anjo
custódio – isto é, o anjo da guarda – de toda a humanidade. Está
iconograficamente associado a Tobias, a quem devolve a vista, e assume muitas
vezes a imagem de um peregrino com o bordão e a vieira características. É ele
que abre os olhos aos navegadores portugueses, ensina o caminho e os acompanha
na viagem peregrinação, viagem simbólica que lança a ponte entre o mundo que
ora acaba e outro que aos poucos já desperta. Misto de cavaleiro medieval e de
homem moderno que satisfez a grande aspiração de El-Rei D. Manuel I.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mais de cinco
séculos depois há agora outras índias à nossa espera. E eu vou também,
embarcado nas largas asas dos arcanjos à procura da alma portuguesa que está
hoje de novo pelo mundo em pedaços repartida. E entro, à sombra dos arcanjos,
nas ondas de este mar, tumultuoso e traiçoeiro, que os velhos do Restelo, que
são agora garotos e fedelhos, não querem que seja, como outrora, nosso e
português. Definitivamente, não fico, comodamente na praia a ver os outros
partir. Mas singro neste mar, sempre pelas mãos protectoras dos arcanjos, neste
mar alteroso, de vagas fortes e carnívoras, que tudo comem e levam; neste mar
que é também um mar interior, feito de trabalhos sem fim e de sacrifícios sem
conta, olhos postos no gajeiro que lá do alto perscruta o vasto horizonte que a
sua experimentada vista alcança, com o coração desejoso e alvoraçado de poder
gritar de vez a todos nós: Cabo da Boa Esperança!<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É neste mar que eu
navego; é nestes barcos que eu vou.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigzREJ4UcMjtxRzyLc7Xerncj7Uj17wIQmU6vmndFI9r0cjdv8Hqykejv9jWL4cjOcr1qBMUWX-y-_ncZdWZN4-jMqr7BMqYuvAGWzw3fHQZyWmi9Jp7MznOEay2YiJq_vokpmIIPZr1o/s1600/Arcanjo+S.+Rafael+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigzREJ4UcMjtxRzyLc7Xerncj7Uj17wIQmU6vmndFI9r0cjdv8Hqykejv9jWL4cjOcr1qBMUWX-y-_ncZdWZN4-jMqr7BMqYuvAGWzw3fHQZyWmi9Jp7MznOEay2YiJq_vokpmIIPZr1o/s320/Arcanjo+S.+Rafael+001.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></span> </div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-71607637286747500332013-06-27T15:43:00.001-07:002013-06-27T15:43:11.111-07:00À PORTA DE SANTA CRUZ
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio6oRirmDv8HEymXuHb3MG5ybsac-BAREXBNWxRKQdqYaW6z7OZUCxPPMkLAJYXnNrl5exZa_VLJrsmloBITpSQ0w4UaORULA-CPb-KijgjTIpwMTbcqchzofcC8XDMdChZsv60HccfEo/s1600/Cadeiral+da+Igreja+de+Santa+Cruz+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio6oRirmDv8HEymXuHb3MG5ybsac-BAREXBNWxRKQdqYaW6z7OZUCxPPMkLAJYXnNrl5exZa_VLJrsmloBITpSQ0w4UaORULA-CPb-KijgjTIpwMTbcqchzofcC8XDMdChZsv60HccfEo/s320/Cadeiral+da+Igreja+de+Santa+Cruz+001.jpg" width="218" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Parece que é, de novo,
à porta da velha Igreja de Santa Cruz que me encontro com Monsenhor Augusto
Nunes Pereira. Figura inesquecível da cultura coimbrã, com o seu ar quase
tímido de quem pede desculpa pelo seu muito saber no domínio da arte, artista
ele próprio de sólidos recursos, moderno pioneiro, entre nós, da nobre arte da
xilografia, pouco, infelizmente, deixou impresso para lição e proveito dos seus
muitos admiradores e amigos. Mas uma obra – que na altura comentei no velho <u>O
Primeiro de Janeiro</u>, com a amizade agradecida do Autor – merece que aqui se
sente, ao nosso lado, nesta tertúlia a que um bom café não faltará, por certo,
como o antigo e saboroso da animada e velha <u>A Brasileira</u>. Refiro-me,
naturalmente, a <u>Do Cadeiral de Santa Cruz</u> que, já neste século, mereceu
uma segunda edição a cargo da Câmara Municipal de Coimbra.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta obra é
enriquecida por um notável conjunto de riquíssimas xilogravuras que reproduzem
os motivos que lhe servem de estudo e que nos dão conta do valor de artista
exímio que foi Monsenhor Augusto Nunes Pereira. Discípulo de Pietro Parigi
(1892-1990), um autêntico mestre da xilografia italiana de “Novecento”, artista
florentino que foi amigo de notáveis escritores como Piero Bargellini, Carlo
Betocchi ou Nicola Nisi. E também ele de uma modéstia fora do vulgar e de uma
grande riqueza espiritual, possuía Pietro Parigi a força escultórica de um
Donatello e de um Miguel Ângelo, sendo única a sua arte de xilógrafo, e, por
isso, foi considerado ao mesmo tempo um clássico e um moderno sem igual.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas neste livro
sobressai ainda a sólida cultura iconológica do seu Autor, interessado e atento
leitor de Erwin Panofsky – tantas conversas tivemos sobre este assunto - , que
era então para muitos um completo desconhecido. Através dele, e da distinção
que soube fazer na prática entre iconografia e iconologia, veio, mais uma vez,
chamar a atenção para a importância cultural e artística do Catolicismo que
nunca ficou fechado entre quatro paredes mas deu sempre sentido e forma à nossa
cultura, porque extravasou para o quotidiano que dele se alimenta e dele vive,
em mil modos e formas que todos conhecem, mas alguns tentam, por vezes,
teimosamente escamotear e esconder.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desde Aby Warburg,
professor da Universidade de Hamburgo e mais tarde em Londres, e sobretudo
Erwin Panofsky, que o estudo e análise das imagens adquiriu um valor
excepcional. Panofsky parte do princípio de que numa obra de arte a forma não
pode separar-se do conteúdo, não é um mero suporte visual, tem um sentido que a
ultrapassa e que se manifesta a três níveis: 1) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a forma material</i>; 2) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a ideia
convencional</i> e o 3) <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>significado intrínseco</i>. O primeiro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pré-iconográfico</i>, serve para identificar
as formas puras (por exemplo, um homem pregado numa cruz); o segundo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">iconográfico</i>, refere o conteúdo
secundário ou convencional que nos permite identificar as imagens, histórias ou
alegorias por meio de fontes literárias ( nesta caso o Evangelho); por último,
o valor <i style="mso-bidi-font-style: normal;">iconológico</i>, que Panofsky
defende como essencial, trata do conteúdo intrínseco da obra, enquanto comporta
valores simbólicos. Ora, é precisamente isto que nos dá Monsenhor Augusto Nunes
Pereira nesta obra, ao descrever e analisar cuidadosamente os vários elementos
que compõem o cadeiral de Santa Cruz. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para tornar
compreensível a iconografia, Panofsky deu uma vez o seguinte exemplo:
coloquemo-nos na situação de um bosquímano que contempla um quadro da Última
Ceia. Não vê nada mais do que uma refeição em comum que parece representar algo
de importante. Para compreender o sentido do quadro o nativo deverá familiarizar-se
com a narrativa evangélica. Ora quando vemos obras de arte cujos temas
ultrapassam o âmbito das ideias que constituem a formação intelectual média
actual, todos somos bosquímanos. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É natural que o
leitor, atento e amigo, faça agora uma pausa para sorver mais um pouco de café
que, por minha culpa, minha própria culpa, ficou a arrefecer indevidamente na
respectiva chávena. Para me penitenciar e aligeirar este breve arrazoado, assim
o terminando de vez, peço licença para lhe contar um episódio que ocorreu com Monsenhor
Augusto Nunes Pereira e é bem revelador do seu espírito franciscano. Quando se
encontrava de férias, foi a sua casa alvo de uma visita, não solicitada
previamente, de dois membros do Sindicato de Ladrões, Larápios, Gatunos e
demais Ofícios Correlativos que lhe levaram um baú que continha, não só os
apetrechos da sua arte de xilografia, mas várias obras já concluídas e outras
em fase de conclusão. Provavelmente porque não tinham realizado o curso final
com bom aproveitamento, os membros do Sindicato tanto barulho fizeram, primeiro
a arrombar a porta e, depois, a transportar o baú, que os vizinhos, assim
alertados, avisaram a polícia. Fugiram os ladrões, deixando na rua o pesado baú
e, avisado pelas autoridades, regressou sobressaltado a casa o nosso monsenhor.
Um polícia mais curioso reparou, porém, que o baú tinha escrito na tampa a
palavra <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">RASA </b>e perguntou ao nosso
querido e santo amigo o que significava tal palavra, Ao que este, de modo
tímido, respondeu:<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>-<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">R</b>ecomendado
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a</b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">S</b>anto <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A</b>ntónio</i>! </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"> </span></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Calibri;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTeZePc6zmEOxs2RkYmrthRd_juSMbDfwtapoqMnRJhyrV0n7OUWhA8doVzVUEDfXvnQjregz-MHoUi1y_zCcg1v1QZaskJk4SB0CAX31kC8W4QJAy84E8NfMKg9VN7ro9VF9Sr6kD1-A/s1600/Do+Cadeiral+de+Santa+Cruz+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTeZePc6zmEOxs2RkYmrthRd_juSMbDfwtapoqMnRJhyrV0n7OUWhA8doVzVUEDfXvnQjregz-MHoUi1y_zCcg1v1QZaskJk4SB0CAX31kC8W4QJAy84E8NfMKg9VN7ro9VF9Sr6kD1-A/s320/Do+Cadeiral+de+Santa+Cruz+001.jpg" width="224" /></a></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></span> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
</div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-79034720867959847892013-06-19T14:50:00.002-07:002013-06-19T14:50:43.013-07:00À CONVERSA COM GUSTAVO CORÇÃO<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3qcYORvRtqCibDTRdMZTEknYv4qewDlwC7cGqNOMUzrD9BFc1DmNX0TTolbqJ9-TbMrENS3PXkG7QKjO9AmIvoRn8G7r9vpB2yZDpVxlLdkw_11rPgW1K1dDIIY_fcfmGTOM4yE4Ck6A/s1600/amigos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3qcYORvRtqCibDTRdMZTEknYv4qewDlwC7cGqNOMUzrD9BFc1DmNX0TTolbqJ9-TbMrENS3PXkG7QKjO9AmIvoRn8G7r9vpB2yZDpVxlLdkw_11rPgW1K1dDIIY_fcfmGTOM4yE4Ck6A/s320/amigos.jpg" width="265" wya="true" /></a></div>
</span></span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há autores que não morrem. Podem tentar destruir a sua imagem, denegrir a sua obra, lançar o seu nome no poço do esquecimento. Em vão. Mais tarde ou mais cedo, hão-de ser redescobertos e então hão-de voltar ainda com maior pujança e remoçado vigor. Suc</span><a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><span style="font-family: Calibri;">ede com todos aqueles que acabam por entrar pelo seu próprio pé na História, sem ajuda de falsos críticos e de jornalistas apressados, para não falar já nestes professores dos tempos que correm e que tudo baralham e confundem, na clara intenção de, pelo barulho das luzes, esconder a sua sólida e descarada ignorância.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ora, um de esses escritores que o homem culto há-de ler e reler, saboreando-lhe o estilo ao mesmo tempo que enriquece e aumenta a sua cultura, é Gustavo Corção, o escritor brasileiro que me habituei a ter junto de mim, nesta minha estante reservada, com livros que me têm acompanhado, dando-me coragem para enfrentar desafios que não têm sido menores do que aqueles que o Autor enfrentou galhardamente em vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Escritor de histórias pequeninas, desde <u>À Descoberta do Outro</u> à <u>Conversa em Sol Menor</u>, eis-me de novo a seguir-lhe os passos, a ler-lhe, ou melhor, a reler-lhe os livros, sentado à sua beira, como se ainda aqui estivesse, a falar comigo como um velho professor fala ao seu aluno, que neste caso não fui, mas gostava de ter sido. Toda a sua obra é como uma conversa que nos dá conta de uma vida recheada de aventuras e de episódios inesquecíveis, e sobretudo de uma extraordinária sensibilidade, uma aguda inteligência, uma sedimentada cultura e uma vivência interior que nos toca para sempre. Tudo isto num escritor que nos leva pela mão, estrada fora, como amigo de velha data. Que conta histórias do seu tempo de menino, andanças e desandanças dos inícios da sua vida profissional, encantos e desencantos de suas paixões pelos astros, pelejas e combates paulinos em defesa de valores e de princípios que o tempo não apaga e a vida nunca esquece.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Autor de um único romance – <u>Lições de Abismo</u> – que emparceira com os melhores em língua portuguesa, sobressai como cronista ágil e ensaísta de nível superior. Este romance, aparentemente pessimista, pois retrata fielmente o problema da desilusão, da dor e da doença, mas também da redenção, é, pela profundidade dos temas e o modo como os trata, um romance marcante, capaz de entrar dentro de nós, de se colar ao corpo, de se entranhar na alma. Sem ser simples nem lamechas, como estes romances modernos de quiosque, que se lêem e deitam fora, e dos quais, quando muito, só se guarda, por esquecimento, o talão de compra. É, acima de tudo, a própria vida vestida de romance pela pena de um dos maiores escritores do século passado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Venha, pois, o leitor inteligente e amigo sentar-se aqui também para escutar a espantosa análise que Gustavo Corção nos dá do século vinte, criador de uma verdadeira comédia de erros que chegou impune e alegremente disfarçada até nós. E assim continua neste início do século vinte e um. De um tempo que, justamente, dá o título ao livro que abro agora de novo, que releio uma vez mais e compreendo em sintonia plena com o seu Autor: <u>O Século do Nada</u>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na noite do dia 2 de Abril de 1945 Gustavo Corção foi acordado por um telefonema em que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">uma voz de mulher estrangeira gritou no meio de um vozeiro: - Os russos estão entrando em Berlim!</i> Diz-nos o escritor brasileiro que, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">no quarto, diante de minha mesa de trabalho e do crucifixo, depois de uma breve oração deitei a cabeça nas mãos e repeti para mim mesmo como quem geme: - Os russos estão enterrando em Berlim. Uma certeza medonha e brutal apunhalou-me: perderamos a guerra. Ou melhor, perderamos a paz. Eu sentia o punhal: arrematara-se a mais hedionda conjura de traições. E começava, naquele dia de festividade monstruosamente equivocada, uma era de inimagináveis imposturas.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQpT24CuNZCwmSPzY7ozfmQ9NbWWKcotIe1hEQPQT8f67dwwQumyNvzbP5gFXP6vxG4zThiM1O4LzA5BinlRqmPgKOH8dELgVhFKxSGveASJdJy3aSovB1fSoowbYJw-T3xGX47b-4T2M/s1600/O+S%C3%A9culo+do+Nada+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQpT24CuNZCwmSPzY7ozfmQ9NbWWKcotIe1hEQPQT8f67dwwQumyNvzbP5gFXP6vxG4zThiM1O4LzA5BinlRqmPgKOH8dELgVhFKxSGveASJdJy3aSovB1fSoowbYJw-T3xGX47b-4T2M/s320/O+S%C3%A9culo+do+Nada+001.jpg" width="214" wya="true" /></a></div>
</div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-35029687400720083392013-05-30T14:16:00.000-07:002013-05-30T14:16:19.928-07:00CORAÇÃO DE PORTUGUÊS<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHiXCZ-cOGr5VXBLJRc-W1FWuvSsX3LZ5Fubcq4OavmtyZgvuXfB1yuQsMnqlPB2LtvSUE70T7FfK_LvWED9rZHDSkpYNJ8RXXODNNfLMxd8ZBOHVi_Os3WS4rZp5uWQaDMn32CShwLdM/s1600/Gruta+de+Cam%C3%B5es+-+1+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHiXCZ-cOGr5VXBLJRc-W1FWuvSsX3LZ5Fubcq4OavmtyZgvuXfB1yuQsMnqlPB2LtvSUE70T7FfK_LvWED9rZHDSkpYNJ8RXXODNNfLMxd8ZBOHVi_Os3WS4rZp5uWQaDMn32CShwLdM/s320/Gruta+de+Cam%C3%B5es+-+1+001.jpg" width="320" yya="true" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É este cheiro a terra húmida que me recebe e me abraça, me entra sorrateiramente pelas narinas adentro e segue em passo miudinho e atrevido para o coração, num misto de alegria e de profunda paz, de perfeita serenidade. Estou em Macau. Sinto-me como se fosse a minha própria terra. Sinto-me em casa. Olho em redor, quando ponho o pé em terra firme e vejo novos rostos que me lembram inevitavelmente velhos e queridos amigos que aqui deixei e me esperam ansiosos para um abraço à antiga, fraterno e bem português.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Chego ao cair da tarde e entro na agitação de uma cidade cuja pressa parece sempre calma, numa cidade que nunca pára, dia e noite, mas em que o tempo tem um ritmo diferente, pausado e certo, sem correrias loucas nem vagares em demasia. Entro também nele e acerto o passo, nesse ritmo cadenciado e certo. E quando vou apressado pela rua fora, sinto o coração sereno e calmo; e quando o coração se agita por rever velhos lugares e amigos que não esquecem, ando mais devagar, passo a passo, para poder saborear completamente um momento que não quero perder, que tenho medo me fuja gaiatamente por entre os dedos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estou numa cidade em que se cruzam povos de todo o mundo, que vejo passar por mim, numa babel de línguas em que o cantonês naturalmente predomina mas onde aparecem ainda, teimosamente, sons e palavras portuguesas. Vejo-os <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nos autocarros, na rua, nos restaurantes, nas igrejas a falar a língua de Camões que aqui esteve e aqui viveu. São, como nós, lusíadas. Ou talvez mais. Embora tenham nascido no Oriente e aqui vivam e trabalhem. Foram eles que ao longo de sucessivas gerações criaram imorredoiros laços de amizade entre Portugal e a China. Que ainda hoje perduram na RAEM (Região Administrativa Especial de Macau). São os Macaenses.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Olho para o lado e vejo a Alexandra Sofia a mostrar-me timidamente o seu livro (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Filhos da Terra</i>. A Comunidade Macaense, Ontem E Hoje</b>,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Instituto Internacional de Macau, Macau, </span><a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><span style="font-family: Calibri;">2012). Sem razão para qualquer timidez. É a melhor e mais completa iniciação a este tema que conheço. De consulta indispensável e de divulgação obrigatória. Dá-nos uma visão perfeita, de quem a conhece por dentro, de quem a sente na alma, de esta extraordinária comunidade macaense. De uma comunidade que criou sólidas raízes no passado, nos fascina no presente e se projecta, assim Deus a ajude, pujante no futuro. Que extravasa de esta terra, que só parece pequena para quem não a vê com a alma aberta e grande, e corre pelo mundo fora ( Hong Kong, Sidney, São Paulo, Rio de Janeiro, Toronto, Vancouver, S. Francisco, Hillsborough (Califórnia), Lisboa) em comunidades que mantêm as ligações a esta cidade que, ainda hoje, a todos seduz e encanta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></b><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Através da celebração de festas genuinamente portuguesas, como o 10 de Junho, ou macaenses, como o 24 de Junho – dia da vitória sobre os invasores holandeses, em 1622 -, sem esquecer o Natal e o Ano Novo Chinês, é Macau que está<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>presente, por vezes com o seu patuá – dialecto próprio -, mas sempre com a sua riquíssima culinária no chá gordo, que é um festim para os olhos e um regalo para o estômago. Ele é o minchi, o tacho, o arroz gordo. Ele é a samussa, o chilicote, o pãozinho. Eles são os doces: ginetes, bebinca de leite, bolo menino. Meu Deus, não há dieta que aguente! Nas horas vagas, recomenda-se a leitura de um bom livro. E que autor melhor, e maior, do que o macaense Henrique Senna Fernandes, um dos grandes cultores da língua portuguesa no século XX?! São assim os macaenses, apegados à terra que os viu nascer, fazendo sempre a ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre o passado que não esquecem e o futuro que constroem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Leio-lhes na franqueza do olhar com que me falam o velho e nobre coração de português. E quando os vejo passar, macaenses de muitas gerações ou portugueses que há anos aqui vivem e diária e honestamente labutam nesta cidade que tão generosamente os acolheu e agora sentem também como terra própria e sua, sinto algo dentro de mim que não sei bem como descrever. É que trazem a Pátria consigo, guardam-na dentro do peito. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghk2_ErJrt_i7SERtVI1RLkRy3cAU2lWObhBMDCW1OWcDAmni2f__P12vB0FEIcGy54P-pDCbMii3o9qqcfyCADNVvBBHleriZo8YiddExZ-q8AxVBQ1b7jm7jYvGO-hDLVnz_gKd_uy8/s1600/Filhos+da+Terra+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghk2_ErJrt_i7SERtVI1RLkRy3cAU2lWObhBMDCW1OWcDAmni2f__P12vB0FEIcGy54P-pDCbMii3o9qqcfyCADNVvBBHleriZo8YiddExZ-q8AxVBQ1b7jm7jYvGO-hDLVnz_gKd_uy8/s320/Filhos+da+Terra+001.jpg" width="211" yya="true" /></a></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-66756876940915477002013-05-02T15:06:00.000-07:002013-05-02T15:06:02.028-07:00MAMA SUME
<br />
<h2 style="margin: 10pt 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #4f81bd;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrdlKgLOzjy3Ge85Tg6OnqQF3eUFYv3JeP8SpJuW_zMwt3ALxBp6TMHm-WIQGYnypsCP2VPtPvav8Yt6Q69e7n5xi5xLcifdIhkye7s_vNLX4SLw2eW3WIbx-lpjmh8c9A__EOhVhudX8/s1600/Mama+Sume+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrdlKgLOzjy3Ge85Tg6OnqQF3eUFYv3JeP8SpJuW_zMwt3ALxBp6TMHm-WIQGYnypsCP2VPtPvav8Yt6Q69e7n5xi5xLcifdIhkye7s_vNLX4SLw2eW3WIbx-lpjmh8c9A__EOhVhudX8/s320/Mama+Sume+001.jpg" width="243" /></a></div>
</span></span></span></span></h2>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acaba de sair a
revista da Associação de Comandos, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Mama
Sume</b>, comemorativa dos 50 anos dos Comandos – 1962/2012. No Editorial do
Presidente da Direcção, José Lobo do Amaral, é referido o papel extraordinário desempenhado
por este Corpo militar de escol no meio século da sua fecunda e brilhante
existência. Sem nunca vacilarem na fidelidade ao seu “Código Comando”, merecem
as palavras com que se encerra o Editorial e que cumpre aqui deixar também
expressas:<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Trazem
com eles o tempo todo em que se fez Portugal –por isso, se o Reino foi feito
por soldados, como escreveu Mouzinho, Portugal é e será também obra de
comandos.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mais uma vez tive a honra de colaborar nesta revista. Neste
número, com um artigo intitulado <u>Origem e significado do 1º de Dezembro</u>.
Permito-me transcrever aqui o último parágrafo.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Para aqueles que se julgam sobreviventes da
Arca de Noé e cujo passado foi levado nas enxurradas do Dilúvio, começando a
vida apenas com o presente, o 1ª de Dezembro nada significa. Pelo contrário, a
maioria dos portugueses sabe que o futuro só se constrói com raízes lançadas no
passado, como a boa árvore que não fenece, porque se fixa em terra firme, arada
por séculos que a fertilizaram e enriqueceram. O dia da feliz restauração não
assinala somente o regresso da independência política e as naturais
consequências que daí advieram. Representa muito mais: o espírito de sacrifício
do povo português, a sua capacidade de resistência, o seu amor ao trabalho são
e honesto, a crença inabalável num futuro melhor, em suma, a forte
personalidade de uma Nação que não se deixou vergar nem abater nos momentos de
maior dificuldade, de profunda tristeza e até mesmo de enxovalho da comunidade
internacional. Serão outros os tempos, mas os exemplos ficam. E servem de
referência e de estímulo para enfrentar os momentos mais difíceis. Daí a
necessidade de permanentemente os lembrarmos para que a nossa identidade se não
perca nas areias de este nosso tempo que o inconstante vento tão facilmente
dispersa e desfaz.</i><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlQ6PQSZS61YQH8bDVCxx8FFzLhCKnq5iidYCbgX9KqCnfb0rRd3ihE6e7yoW3QUcM0hlIOIz4GqW2hnpdnpZ9nPFfvAdPdGDYwLBv8Pg6g7YmXhrsWVeeaZVQ27hwzRDtjEb7kDMJQZQ/s1600/Origem+e+significado+do+1%C2%BA+de+Dezembro+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlQ6PQSZS61YQH8bDVCxx8FFzLhCKnq5iidYCbgX9KqCnfb0rRd3ihE6e7yoW3QUcM0hlIOIz4GqW2hnpdnpZ9nPFfvAdPdGDYwLBv8Pg6g7YmXhrsWVeeaZVQ27hwzRDtjEb7kDMJQZQ/s320/Origem+e+significado+do+1%C2%BA+de+Dezembro+001.jpg" width="230" /></a></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-59446483001368276222013-03-30T18:05:00.001-07:002013-03-30T18:05:58.670-07:00Tintim em Macau<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsjpAgjDPelh0o-VOfqnsZVK4jR2ewd9B2zcXm4RIWszREfo54yXYPiFVFnAD6fuOybTTxIwZ7Fy_9V1hAXq3av1KD2532Bvke_E8-5VwbD906XWh1N7X39LO1Ek9FBn5XJmPXqeUE9tE/s1600/O+Lotus+Azul,+em+chin%C3%AAs+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsjpAgjDPelh0o-VOfqnsZVK4jR2ewd9B2zcXm4RIWszREfo54yXYPiFVFnAD6fuOybTTxIwZ7Fy_9V1hAXq3av1KD2532Bvke_E8-5VwbD906XWh1N7X39LO1Ek9FBn5XJmPXqeUE9tE/s320/O+Lotus+Azul,+em+chin%C3%AAs+001.jpg" usa="true" width="237" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Adquiri, há alguns anos, numa loja da movimentada Rua da Palha, umas camisolas de algodão que tinham estampados quadrinhos tirados dos álbuns de Tintim, ou mesmo, nalguns casos, uma prancha completa. A loja já desapareceu. É agora uma sapataria. E as camisolas do Tintim, diferentes todas elas das versões oficiais vendidas nas lojas que mantém a presença de Hergé um pouco por todo o Mundo, continuam a servir no Verão, sobretudo quando vou a banhos. Sempre que passo na mesma rua, ainda tento descobrir o paradeiro da loja desaparecida, na busca de uma nova peça de vestuário, naturalmente contrafeita, que me lembre o velho e saudoso companheiro dos meus tempos de juventude e que continuo a reviver agora, com o mesmo proveito e a mesma alegria. Ando, por isso, aqui, em Macau, à procura do Tintim. Não, como os Dupond e Dupont, a percorrer, disfarçado, a cidade chinesa. Mas com a plena serenidade de quem está, não obstante a língua e os costumes, numa cidade cristã.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Falar de Tintim nesta cidade pode, à primeira vista, lançar alguma confusão. É que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tin-tin</i> era o nome que se dava às lojas de bricabraque chinesas que, no século passado, existiam em vários locais, sobretudo para os lados do Porto Interior, num largo dito “das melancias”, a que os chineses chamavam <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lan-Kuoi-Lau</i>, sendo também conhecida como “Feira da Ladra”. Ou aos vendedores ambulantes de ferro-velho que tudo vendiam e, aparentemente, consertavam. O nome, creio, tinha a ver com o barulho que o vendedor fazia batendo incessantemente um prego num pedaço de ferro, para chamar a atenção da interessada clientela. Esses tintins praticamente desapareceram. Hoje falar em Tintim – dingding, em mandarim – é lembrar os seus livros, sobretudo <u>O Lótus Azul</u>, a mais conhecida aventura do nosso herói na China e o álbum que mais rapidamente se esgota nestas paragens. Nele, como sabemos, é-nos apresentado um jovem chinês, estudante da Academia de Belas Artes de Bruxelas, e cuja história e amizade com Hergé se tornou lendária.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Zhang Chongren (1907-1998), artista e escultor que ganhou merecida fama e tem, em Xangai, sua cidade natal, um museu que lhe é dedicado, deu origem, no álbum, à figura de Tchang (transcrição fonética de Zhang),<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>grande amigo de Hergé, na vida real, e que reaparece, de forma comovente, em <u>Tintim no Tibete</u>. Publicado inicialmente na revista <u>Petit “vingtième”</u>, entre Agosto de 1934 e Outubro de 1935, com o título de <u>Tintim no Extremo Oriente</u>, o álbum <u>O Lótus Azul</u> é verdadeiramente inovador, dando-nos uma visão mais correcta e realista da China de então, ainda pouco conhecida no Ocidente. Nele, ao contrário do álbum anterior, <u>As Aventuras de Tintim, repórter no Oriente</u>, título inicial da versão moderna de <u>Os Charutos do Faraó</u>, onde surge pela primeira vez o nosso simpático compatriota Oliveira da Figueira, não há qualquer personagem portuguesa. Como sabemos, são apenas três os nossos compatriotas que se cruzam com Tintim. Além de este amigo de toda a hora e dos momentos mais difíceis e inesperados, há o jornalista do <u>Diário de Lisboa</u>, em <u>Tintim no Congo</u> – cuja primeira versão entre nós foi “Tim-Tim em Angola”, na revista <u>O Papagaio</u> – e o Professor Pedro João dos Santos, o célebre físico da Universidade de Coimbra, em <u>A Estrela Misteriosa</u>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E por que não, pergunto eu ao deambular por esta cidade, onde o Ocidente se cruza com o Oriente, um <u>Tintim em Macau</u>, como continuação de <u>O Lótus Azul</u>, passado em pleno período da Segunda Grande Guerra? Nesta cidade que já foi comparada, nesse período, à Casablanca que o cinema mitificou ou à velha capital portuguesa que, quando a Europa ardia em chamas, mantinha uma paz digna e difícil, embora não isenta de muitos sacrifícios. Uma paz de uma enorme grandeza, transformada na extraordinária Exposição do Mundo Português, em que Macau naturalmente participou, e tanto impressionou o criador de <u>O Principezinho</u>, Antoine Saint-Exupéry.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para a feitura de este álbum podia muito bem contribuir o livro de João F. O. Botas, que o Instituto Internacional de Macau soube, em boa hora, editar. Estudo sério e muito bem documentado, que consegue dar uma boa visão de uma das épocas mais difíceis de este conturbado oásis de paz, entre 1937 e 1945. Oásis de paz, quando à sua volta grassava a guerra, a fome, a doença e a morte, e cujas consequências se faziam sentir também aqui diariamente. Traz-nos este livro figuras dignas de um bom álbum de Hergé e de episódios que dariam magníficas e coloridas pranchas. É certo que a violência parecia correr a par e passo, muitas vezes, com a pacatez do quotidiano. Mas outros álbuns do Tintim, como o próprio <u>O Lótus Azul</u>, já referido, se passam também em plena guerra, com ódios, traições e violências desmedidas. A arte de Hergé saberia, por certo, tudo dosear e fazer de Macau o centro inesquecível de mais uma fabulosa aventura de Tintim.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Fico a pensar em tudo isto quando leio o livro <u>Macau 1937-1945. Os Anos da Guerra</u>. E nele vejo Tintim a falar com Pedro Lobo e com Monsenhor Manuel Teixeira. Imagino Hergé a relatar a chegada a Macau de várias malas de livros do historiador britânico Charles Boxer, quando os japoneses ocuparam Hong Kong. Como Danilo Barreiros, grande amigo do historiador inglês, possuía a chave de sua casa conseguiu assim salvar a preciosa biblioteca. Impressionante é também a vivacidade e o colorido que o criador de Tintim dá ao quartel-general do pirata Wang Kong Kit, situado na Avenida Horta e Costa. O contraste é Henrique Senna </span><a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><span style="font-family: Calibri;">Fernandes – um dos meus escritores da estante reservada – a contar, com toda a graça e encanto que só ele tinha, as trapalhadas dos “detectives” Dupond e Dupont, perdidos entre os refugiados chineses, os macaenses de Hong Kong e os japoneses que se passeiam na cidade. Tudo isto sob o olhar atento do jovem Padre Lancelote Rodrigues, enquanto o pintor russo George Smirnoff tenta transformar rapidamente esta cena numa aguarela. Mas um dos melhores momentos do álbum é, sem dúvida – e penso que o leitor amigo é da mesma opinião -, o episódio, superiormente tratado por Hergé, da intrusão sub-reptícia de Tintim na casa do representante japonês em Macau e, ao sentir-se descoberto, a fuga apressada por um túnel, situado na cave do edifício, que, pensava ele, o traria rapidamente para o exterior. Mas o túnel ligava com a casa do vizinho que era, nem mais, nem menos, a do cônsul inglês em Macau!... Mais a frente, é o espanto de Tintim ao cruzar-se, na Avenida Almeida Ribeiro, com o americano William Gardner, fardado de oficial japonês. Espanto ainda maior, quando na última prancha do álbum, o vê fardado agora de oficial americano e ostentando, garboso, vistosa condecoração.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><u>Tintim em Macau</u>, afinal, existe. Embora seja apenas na minha imaginação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: Calibri;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibD2XhytMllbm-y8yqODXZSRm26xeNgKUSAjLWkypDMbdKotO9vyQMVyJNPXCAxJLFii7qMtaHMsVMje-cDjI83a6TjgWNhc4kKGTUNQmbPBpZ4zHia2v35kqGrJTBsAwZex8Gj0yZzeo/s1600/Macau.+Os+Anos+da+Guerra+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibD2XhytMllbm-y8yqODXZSRm26xeNgKUSAjLWkypDMbdKotO9vyQMVyJNPXCAxJLFii7qMtaHMsVMje-cDjI83a6TjgWNhc4kKGTUNQmbPBpZ4zHia2v35kqGrJTBsAwZex8Gj0yZzeo/s320/Macau.+Os+Anos+da+Guerra+001.jpg" usa="true" width="212" /></a></div>
</span></o:p></span><br />
</div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-9054415327764558762013-03-23T06:27:00.002-07:002013-03-23T06:27:25.497-07:00<br />
<h1 style="text-align: center;">
<span lang="PT" style="font-size: 24.0pt; line-height: 115%;">PORTA DO CÉU<o:p></o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIv_LvH4tvKSKjWCb3TFZgP5tbKYNFaziprsXsPH97BVSUpadJ2x9IQ1lkpDstCUrSG7FOEG3Ha8urFqrOBvzsmOPfDlC_DMCza6djXHa3sm5FSLuurJEnvi5ieVcHiMY5dM9VmPjd9cM/s1600/Igreja+da+Madre+de+Deus+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="317" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIv_LvH4tvKSKjWCb3TFZgP5tbKYNFaziprsXsPH97BVSUpadJ2x9IQ1lkpDstCUrSG7FOEG3Ha8urFqrOBvzsmOPfDlC_DMCza6djXHa3sm5FSLuurJEnvi5ieVcHiMY5dM9VmPjd9cM/s320/Igreja+da+Madre+de+Deus+001.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Passo a
passo, degrau a degrau, vou subindo a escadaria que me conduz à fachada da igreja
de Nossa Senhora Mãe de Deus, em latim, <i>Mater
Dei</i>, como se encontra gravado no lintel da porta da entrada principal.
Degrau a degrau, passo a passo, olho para o céu e nele vejo recortada a fachada
da igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, a quem foi dedicado este
espaço sagrado que fazia parte do Colégio de Nossa Senhora Mãe de Deus, a
primeira universidade europeia no Extremo-Oriente, fundada pelos jesuítas, em
1594, nesta cidade de Macau.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Passo a
passo, degrau a degrau, subo devagar a velha escadaria em direcção à fachada
que, com o tempo, ganhou o nome de fachada de S. Paulo, nome que vulgarizou
também o colégio anexo, e que, no século XVII, muitos consideravam como tendo
comparação apenas com a Basílica de S. Pedro, em Roma. Ponto de encontro entre
o Ocidente e o Oriente, é desde o dia 15 de Julho de 2005 <i>Património Mundial da Unesco</i>. E aqui se encontram ainda hoje muitas
e variadas gentes, que a visitam diariamente, por esta mesma escadaria subindo,
passo a passo, degrau a degrau.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Passo a
passo, degrau a degrau, vou subindo também a escadaria. Cruzo-me com turistas
de quase toda a Ásia e um ou outro europeu, que, num corrupio incessante, ora
sobem, ora descem. Subo lentamente, olhos postos na fachada em ruínas que, para
mim, continua a ser uma das mais belas do Mundo. É a única que simboliza a
minha Igreja. Porque ela, e só ela, abre as portas directamente para o Céu.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Passo a
passo, degrau a degrau vou subindo a escadaria. E recitando baixinho este
belíssimo poema de um velho Amigo. Degrau a degrau, passo a passo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> <i>NAS RUÍNAS DA IGREJA DA MADRE DE DEUS<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Ave, Madre, Maria,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Cheia de Graça tanta,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Madre de Deus, Porta do Céu,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Aqui estamos convosco;<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Ave Pomba, Ave Madre, Maria, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Salvé Pedras para o Céu!<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Aqui, Santíssima,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Excelsa Mãe de Deus,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Estas escalas subimos, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Mãe de todo o Oriente, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Madre de todo o Ocidente, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Madre nossa, Madre Puríssima,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> Rosa Cândida, Madre de Deus.<o:p></o:p></span></i><br />
<i><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuC0FD_7voUgiY7IOQYiORFcLFIYFtcmpO_SiFDkM00PxvnfnHSOHYYXIPY-QDQPu7eaEC3hVXkhVfkheFR8oFGvW1v88xxlMGi-rSGY5bubn7ov4xWuTX4R1iOceSIC4R4b-Dp7jYSaE/s1600/O+Provedor+de+Vivos+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuC0FD_7voUgiY7IOQYiORFcLFIYFtcmpO_SiFDkM00PxvnfnHSOHYYXIPY-QDQPu7eaEC3hVXkhVfkheFR8oFGvW1v88xxlMGi-rSGY5bubn7ov4xWuTX4R1iOceSIC4R4b-Dp7jYSaE/s320/O+Provedor+de+Vivos+001.jpg" width="169" /></a></div>
</div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-91816784536313822962013-03-10T08:14:00.001-07:002013-03-10T08:14:21.930-07:00O MEU GATO LEITOR<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMaOW4Ob6rjpVQBS4sJ3xdCn8uK1ScXaEnfC03kkypODYnIJFpWQxoEwVFJzciTm9bVxG8D__QwanFvi7JV_Br9MedCUvYVpPKoDm4CaPVOZA11Pt3GnDKEzarsNaeuk7hcy_qKeb0zS0/s1600/cat-reading.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMaOW4Ob6rjpVQBS4sJ3xdCn8uK1ScXaEnfC03kkypODYnIJFpWQxoEwVFJzciTm9bVxG8D__QwanFvi7JV_Br9MedCUvYVpPKoDm4CaPVOZA11Pt3GnDKEzarsNaeuk7hcy_qKeb0zS0/s320/cat-reading.gif" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando as casas
eram suficientemente grandes para nos podermos espalhar calmamente por todas as
divisões, que normalmente eram muitas, escolhia-se o sótão como reserva natural
de arrumações, onde tudo o que já não era imediatamente útil, mas poderia ainda
um dia vir a ser necessário, ficava invariável e caoticamente desarrumado. O
sótão era, assim, o local mágico e secreto – secreto, porque no fundo ninguém
sabia de facto o que lá estava – que nos atraia desde crianças e onde nos
refugiávamos em busca de livros perdidos e esquecidos, jogos meio desfeitos ou
brinquedos fora de moda que nos abriam, de par em par, a enorme porta da
fantasia pela qual entrávamos, ligeiros e contentes, numa nova aventura, perdidos
no tempo e no espaço. Hoje, as casas são pequenas: um simples andar na confusão
de um prédio, a que por vezes se junta uma garagem que era suposto servir para
guardar o automóvel mas que acaba por substituir o velho sótão, mais confusa e
caótica do que este.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há frases meio
tolas. Diz-se que o saber não ocupa lugar. Mas os livros ocupam, e muito. Nas
casas antigas, em que alguns de nós ainda fomos criados, os livros que já não
estavam a uso subiam as escadas e iam dormir para o sótão. Hoje, como isso já
não é possível, ficam fechados na garagem, a dormir como podem, quase ao
relento. No apertamento do meu apartamento tive também de fazer o mesmo: enchi
a garagem de estantes e acomodei cuidadosamente os livros que não podia ter no
escritório ou que na altura não me eram tão úteis. De vez em quando pareço um
rato trocador a levar livros escada a cima, a trazer livros escada a baixo.
Talvez por isso me tenha aparecido há dias na minha garagem-biblioteca um gato,
um gato leitor.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estava eu
serenamente entretido nas minhas arrumações bibliófilas, quando um gato me
entra atrevidamente pela porta escancarada e, com olhar meigo e calmo, me
cumprimenta serenamente: “Miau!”. Temeroso de que me fizesse alguma tropelia
nalguma obra mais valiosa, respondi-lhe: ”Podes entrar, mas não fazes nenhuma
asneira. Está bem?” O gato, educadamente – via-se que era de boas famílias -,
respondeu com um novo “miau!” e avançou para a secção de romances. Do sítio
onde estava não o via, mas confiei no bichano que me pareceu atilado e desejoso
de se instruir. Via-se pelo olhar atento e brilhante que não era um analfabeto
encartado como muitos humanos que olham para os livros como dantes se olhava
para os leprosos: com repulsa e nojo. Entretido como estava, quase me ia
esquecendo do meu amigo gato leitor. Mas, às escondidas, sem que ele me vise,
espreitei por entre duas estantes e pus-me a observá-lo. Olhava com muita
atenção para os romances de Camilo, enquanto lambia as patitas. Fiquei
satisfeito; não era só um gato culto, era também um gato limpo. Quando acabei,
chamei-o e, obedientemente, saiu à minha frente, para poder fechar a porta.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quase todas as
vezes que ia à minha garagem-biblioteca o gato leitor, estivesse onde
estivesse, vinha, feliz e contente, ter comigo. Ia sempre para a mesma secção.
Gostava de romances e de livros de aventura. Vi-o um dia, embevecido, a olhar
para o <u>Dom Quixote</u>, desejoso, quem sabe, de calcorrear terras de
Espanha, atrás do cavaleiro magricela e do gordo Sancho Pança. É curioso que
não ligava muito aos livros de ensaios, de História, de Filosofia ou de
matérias menos próprias para felinos. Contentava-se, e bem, com os bons e
velhos romances que o distraiam e o levavam a passear, pelo menos na
imaginação, por outras terras e paisagens. Era sempre calmo e educado e fez da
minha biblioteca a sua biblioteca. Quase se não dava por ele, embora
cumprimentasse sempre quando entrava e, creio, que também quando saía. Digo,
creio, porque por vezes estava de tal maneira entretido que não me apercebia
que o meu amigo gato leitor já se tinha ido embora, certamente chamado ao
cumprimento de outros afazeres, menos cultos, mas também não menos importantes.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Até que um dia,
empenhados os dois no desenvolvimento harmónico da nossa formação cultural,
humana e felina, me esqueci, pura e simplesmente, do meu gato leitor. Enquanto
ele continuava entretido a ler alguma obra que, pelos vistos, muito o
interessava, sem dar conta fechei a porta da garagem-biblioteca e regressei ao
meu escritório, levando, é quase certo, algum livro na mão de que necessitava
para o meu estudo ou investigação. Mas nem sequer o abri porque me lembrei que
tinha de sair para tratar qualquer assunto urgente e de que já me estava a
esquecer. O livro ficou assim esquecido no escritório e o gato leitor esquecido
na garagem.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando regressei a
casa soube que um vizinho tinha andado à procura do seu gato – o meu gato
leitor – e, ao ouvi-lo miar da minha garagem, vindo cá a casa pedir à empregada
o favor de lhe abrir a porta para recuperar o seu bichano que, pelos vistos,
também se distraiu com a leitura e não deu conta da minha partida. Mas depois
de esse incidente não ficámos zangados.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O meu amigo felino
voltou a frequentar a biblioteca. Mas agora é ele que, sorrateiramente, vem, de
vez em quando, ver se ainda lá estou, sobretudo quando faço pouco barulho, não
vá ficar outra vez esquecido, preso, sozinho e, sobretudo, sem luz. Porque ele
não gosta de ler às escuras… <o:p></o:p></span></span></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-88800590941649408732013-03-03T09:51:00.000-08:002013-03-03T09:51:14.503-08:00VAMPIROS, MORCEGOS E PESADELOS<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvoY2K5jYDy98Dvk4tEWgt25NYvqhcHqBZBFL3yLcwwiqSut7OHuSyVGFxraqzrM6s8HBxlq0LjKvdXfLnFL-4m1JPVYjH8sDaby1Y0epcQ5lEX98fXLpnYgZHhF_63P7GBVlUd9f6JHM/s1600/Loucura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" gsa="true" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvoY2K5jYDy98Dvk4tEWgt25NYvqhcHqBZBFL3yLcwwiqSut7OHuSyVGFxraqzrM6s8HBxlq0LjKvdXfLnFL-4m1JPVYjH8sDaby1Y0epcQ5lEX98fXLpnYgZHhF_63P7GBVlUd9f6JHM/s320/Loucura.jpg" width="234" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já lá vai o tempo em que uma livraria era um lugar seguro. Agora, não é assim. Pode até ser um local extremamente perigoso. Há dias entrei numa e vi-me imediatamente rodeado de vampiros. Melhor dito, de livros de vampiros, sobre vampiros e com vampiros na capa que me olhavam, atentos e sequiosos. Um jovem funcionário, extremamente simpático, avançou, lesto, na minha direcção e perguntou-me, solicito, se precisava de ajuda. Pareceu-me que, ao sorrir, pôs um dente de fora e, sugestionado pela abundância de vampiros que me olhavam gulosos da prateleira, levei instintivamente a mão direita ao pescoço, em jeito de atabalhoada protecção, disfarçando rapidamente como quem está a compor o colarinho da camisa. Mal ganhei para o susto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pensava eu, na minha ingenuidade, que os vampiros só atacavam de noite ou, na melhor das hipóteses, ao lusco-fusco, nos dias nublados. Mas eis que agora, provavelmente com legislação nova e mais actualizada, atacam a qualquer hora, desde as nove da manhã às nove da noite, e sem pausa para almoço. São um verdadeiro perigo. Tanto mais que pode qualquer um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>levá-los para casa, nalguns casos até com desconto de dez por cento, e aí, sim, longe de olhares indiscretos, actuar em conformidade. Ao que nós chegámos: aos vampiros em saldo, aos vampiros volantes, aos vampiros de bolso!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A necessidade de uma literatura de fortes emoções, que nos deixe, literalmente, sem pinga de sangue, não é um bom barómetro cultural. Forte emoção tínhamos nós, noutro tempo, quando, depois de juntarmos as nossas sempre magras economias, podíamos comprar um livro de um autor de boa prosa e sólida cultura que levávamos, já em animada conversa, como velhos e inseparáveis amigos, para o aconchego do lar, entusiasmados com a dupla aquisição: de leitura e de recheio da biblioteca. Ou então aquele livro de arte, duplamente pesado, no preço e no tamanho, só possível no Natal ou no nosso aniversário, se por acaso o tivéssemos insinuado sub-repticiamente a algum familiar ou amigo mais chegado. Agora, temos a emoção a martelo, ou melhor, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ao dente</i>!</span><a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta literatura de pesadelo é, por norma, demasiado pesada: os vampiros são quase sempre de muito alimento. São páginas e páginas tintas de sangue, de gritos de horror, de fugas apressadas, de muitas e sofisticadas ideias idiotas, quando não perfeitamente imbecis. Saltando de capítulo em capítulo e até de livro em livro, surgem verdadeiras famílias vampirescas, a que não são imunes as próprias crianças que, desde que já tenham dentes com alguma consistência, podem também fazer parte integrante de essa imensa família que alastra pelas livrarias e começa a viver, refastelada, nas melhores bibliotecas públicas e em muitas privadas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tinha ideia que a relação com os livros era mais uma coisa de morcegos do que de vampiros. Na Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra há uma simpática colónia de morcegos que todos os dias, ou melhor, todas as noites, quando as portas do vetusto edifício estão encerradas para o público, avança, sem dó nem piedade,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para a bicharada – que ousa atacar as preciosas obras que aí estão guardadas – e dela faz o seu lauto e suculento jantar. Tem a protecção do Senhor Director e não consta que estejam sindicalizados, pois não há notícias de greves e, muito menos, de greves de fome. É caso para dizer: morcegos, sim; vampiros, não.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Neste momento já deve estar o leitor amigo a pensar que sou só a favor da literatura séria, daquela que supostamente se ensina nas escolas e de que os críticos dizem bem, sem nunca a terem lido. Nada disso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Também há bons livros, e até muito bons, na chamada literatura de pesadelo. E é precisamente um de esses livros que está aqui, ao meu lado, a agitar-se todo irrequieto para que eu o leia de novo: <u>O homem que era quinta-feira</u>, de G. K. Chesterton. Muitos, por certo, acharão estranho que eu coloque esta obra na literatura de pesadelo, mas foi o próprio autor que assim o fez ao integrar no título do livro <u>Um pesadelo</u>, embora muitos editores não apresentem o nome completo da obra: <u>O homem que era quinta-feira: um pesadelo</u>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas este é um pesadelo admirável, cheio de graça, de encanto, de fino humor como só Chesterton nos sabe dar. É um livro para ler em qualquer dia da semana, de manhã, à tarde, à noite, em tempo de férias, mas sobretudo quando em casa ou no emprego tivermos aqueles pesadelos reais que só uma boa leitura de este livro rapidamente supera.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este livro foi dedicado, com um longo poema, ao escritor inglês E. C. Bentley, velho companheiro de escola, e adaptado ao teatro pela cunhada do próprio Chesterton, tendo este redigido um prefácio que antecede a edição da versão teatral de esta novela. Foi colocado pela primeira vez na mão dos leitores em 1908 e, desde então, tem suscitado um interesse entusiástico, sempre renovado em todas as gerações, bem visível nas inúmeras traduções e contínuas edições. Mesmo entre nós, desde que foi publicado no final da primeira metade do século passado – curiosamente numa colecção intitulada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Biblioteca dos Humoristas</i> – até aos dias de hoje, tem colhido naturalmente as boas graças dos leitores, arrastados alegre e jovialmente pela espantosa imaginação e notável capacidade de efabulação do seu autor.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A história que, tal como o enredo de um bom romance policial, não se pode contar, senão perdia a graça de que está imbuído da primeira à última página, tem dado origem a várias interpretações, embora Chesterton deixe subtilmente pistas para encontrarmos, no emaranhado da confusão deliciosa que a novela nos transmite, a solução correcta. É como se entrássemos num jogo passado num labirinto e tivéssemos de descobrir, ao mesmo tempo, como jogar sem cometer qualquer falha, à medida que procurávamos a saída vitoriosa. É um pesadelo que apetece ter, que apetece ler, que apetece sonhar. Sempre de uma actualidade feroz. E com G. K. Chesterton a olhar divertido para nós e a sorrir prazenteiro.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpZ4Nt0PeOs1hDfhhK8g9tr5Vunu7VE5sjjxTOyH23iTKwVJrP0pQM4yzxEnB3Ur0I9AgPUpAgS_WIrS3WlkrfX-NgJp3hI3NYhW0vQ8e_o__ekhxmMxS_fn-9mgdrj4m3GTlme6QYre8/s1600/O+Homem+que+era+Quinta-Feira+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" gsa="true" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpZ4Nt0PeOs1hDfhhK8g9tr5Vunu7VE5sjjxTOyH23iTKwVJrP0pQM4yzxEnB3Ur0I9AgPUpAgS_WIrS3WlkrfX-NgJp3hI3NYhW0vQ8e_o__ekhxmMxS_fn-9mgdrj4m3GTlme6QYre8/s320/O+Homem+que+era+Quinta-Feira+001.jpg" width="220" /></a></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-22994891561768023232013-02-23T11:36:00.000-08:002013-02-23T11:36:20.326-08:00A ÚLTIMA LIÇÃO
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbR5X3e3bdZE3P-gzVCYMWMaPCFo-L_K7PMcbCekXZC_C1ScnO9VEip32-04TywWEGdF9FugOubC7mM_0db4GmyesKIJKGGyY6JZEjKYIZQ2NccyM2LakmfCFNn1c_occK1qBcVQx2A0E/s1600/A+%25C3%259Altima+Li%25C3%25A7%25C3%25A3o+-+2+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbR5X3e3bdZE3P-gzVCYMWMaPCFo-L_K7PMcbCekXZC_C1ScnO9VEip32-04TywWEGdF9FugOubC7mM_0db4GmyesKIJKGGyY6JZEjKYIZQ2NccyM2LakmfCFNn1c_occK1qBcVQx2A0E/s320/A+%25C3%259Altima+Li%25C3%25A7%25C3%25A3o+-+2+001.jpg" width="282" /></a><br />
<h1 style="margin: 24pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 115%;"><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></span></h1>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há dias, quando
estava a ler na minha biblioteca, adormeci profundamente. Acordei,
sobressaltado, com um barulho estranho. E vi que nela estava instalada uma
perfeita confusão, com livros fora do sítio, livros no chão, livros amontoados.
Prosadores e poetas, filósofos e teólogos. Era, em suma, toda a cultura
europeia que ao longo de anos consegui guardar zelosamente e agora, sem mais
nem menos, me esvaziava as estantes e corria, veloz, atropelando-se uns aos
outros, para junto de umas prateleiras, na minha estante reservada, onde estão
as obras do Cardeal Joseph Ratzinger/Bento XVI. Parecia que todos queriam ouvir
a sua voz, escutar a sua palavra, colher os seus ensinamentos, fixar para
sempre a sua última lição. E, no meio de toda esta febril agitação, chegaram-me
aos ouvidos os primeiros acordes do <u>Concerto para piano e orquestra nº20 em
Ré menor K . 466</u> de Wolfgang Amadeus Mozart. Nem as minhas músicas ficaram
sossegadas. Também elas vieram juntar-se aos livros e aos seus autores,
certamente com a mesma intenção.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Impossível referir
todos os autores que quiseram escutar a palavra do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">maior teólogo alemão de todos os tempos</i>, como lhe chama o seu
biógrafo Peter Seewald. Chega-me aos ouvidos um murmúrio de vozes, como se
todos desejassem, quase ao mesmo tempo, fazer perguntas e colher lições, mas
logo vem um silêncio respeitoso, quebrado suavemente pela voz serena e sabedora
de um dos maiores intelectuais dos últimos séculos que assim se sobrepõe a tudo
e a todos e todos escutam como discípulos gulosos da lição do seu querido e
velho mestre. Mas não são apenas escritores. Descobri, no meio de tantas obras
que se empilhavam em direcção às prateleiras da minha estante reservada, uma
especial e fora do vulgar: um álbum de um pintor. E era esse pintor que eu via
agora com o livro na mão. Por iniciativa da sede italiana, em Milão, de The
Foundation of Improving Understanding of the Arts ( Fondazione per Coltivare la
Comprensione dele Arti) foi editado em 1998 um álbum que reunia de modo
“involuntário”, o pintor americano William Congdon (1912-1998) e o Cardeal
Joseph Ratzinger: <u>O sábado na história</u>. As pinturas religiosas do
primeiro, sobre este tema, eram antecedidas de cinco meditações sobre a Semana
Santa, da autoria do cardeal alemão. Constituem ambas, ainda hoje, um bom
motivo para ligarmos a arte moderna e a boa e sólida teologia. Era essa obra
que sobressaia a todas as outras.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas eis que reparo
na presença de um grupo de intelectuais contemporâneos que, na sequência da
brilhante intervenção do Papa Bento XVI na Universidade de Ratisbona, a 2 de
Setembro de 2006, decidiu colaborar numa obra colectiva, em sua homenagem, e
significativamente intitulada <u>Deus salve a razão</u>. A edição original saiu
em Itália, na conhecida editora Cantagalli de Siena – belíssima Siena -, em
2007. Rapidamente traduzida em francês e em castelhano, foi <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enriquecida nesta última com a colaboração de
novos autores. Entre nós, como de costume, não houve qualquer edição. Apenas
silêncio, escuridão e nada mais. Ora são esses autores, de variadas
proveniências, que vejo atentos e desejosos de, uma vez mais, sem mácula nem
medo, com todo o respeito e admiração, mesmo quando discordam, marcar de novo
presença: o filósofo materialista espanhol Gustavo Bueno, da Universidade de
Oviedo; o egípcio Wael Farouq, professor de língua árabe na Universidade
Americana do Cairo e de ciências islâmicas na Faculdade copto-católica; o
filósofo e ensaísta francês André Glucksmann; o catedrático de Literatura
Espanhola da Universidade de Alcalá de Henares, Jon Juaristi, convertido ao
judaísmo; o prestigiado intelectual palestiniano Sari Nusseibeth, professor de
Filosofia e Reitor da Universidade árabe<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Al-Quds de Jerusalém; o sacerdote católico Javier Prades, catedrático de
Teologia Dogmática da Faculdade de Teologia San Dámaso de Madrid; o filósofo
alemão, antigo professor de várias universidades, Robert Spaemann; e o
conhecido jurista de origem judaica, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>J.
H. H. Weiler, natural da África do Sul e professor da Universidade de Nova
Iorque.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como fundo,
continuo a ouvir música de Mozart. Vejo, entretanto, que se agita um livro
sobre o amontoado de todos os outros. É um livro de John Henry Newman, do
cardeal inglês recentemente beatificado por Bento XVI: a famosa <u>Carta ao
Duque de Norfolk</u>. E sinto que se estabelece, de imediato, um vivo diálogo
entre o Cardeal Joseph Ratzinger/Bento XVI e o cardeal oratoriano, antigo e
importante elemento do chamado Movimento de Oxford. Todos sabemos do que trata
esta obra. É, ainda hoje, um indispensável ponto de partida para o estudo,
sério e honesto, da doutrina da consciência, tema particularmente caro a este
Papa e sobre o qual escreveu muitas e luminosas páginas, prenhes de actualidade
e que merecem, por isso, ser de novo lidas e meditadas. E, sobretudo, servem
também para melhor compreender a sua vida e as recentes atitudes do Santo
Padre.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O concerto entra
agora no último andamento. Não sei quem está ao piano, se é o próprio Mozart,
se é o próprio Papa. Nisto, salta um livro da prateleira. Faz-se um silêncio
profundo. É a voz de Bento XVI que se ouve. É, de certeza, a sua última lição.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Na oração, em cada época da história, o
homem considera-se a si mesmo e à sua situação diante de Deus, a partir de Deus
e em vista de Deus, e experimenta que é criatura carente de ajuda, incapaz de
alcançar sozinho o cumprimento da própria existência e da própria esperança. O
filósofo Ludwig Wittgenstein recordava que “rezar significa sentir que o
sentido do mundo está fora do mundo “. Na dinâmica de esta relação com quem dá
sentido à existência, com Deus, a oração tem uma das suas expressões típicas no
gesto de se pôr de joelhos. É um gesto que contém em si uma ambivalência
radical: com efeito, posso ser obrigado a pôr-me de joelhos – condição de
indigência e de escravidão – mas posso também inclinar-me espontaneamente,
declarando o meu limite e, portanto, o facto de que tenho necessidade do Outro.
A Ele declaro que sou frágil, necessitado, “pecador”.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bento XVI podia
lembrar de novo, como o fizera noutro texto, o que disse o poeta e dramaturgo
francês Paul Claudel, quando, velho e cansado, visitou a Itália, sendo visível
a sua dificuldade em locomover-se: ”Custa-me a andar, mas ainda posso ajoelhar”.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já não oiço a
música de Mozart. Está um rádio ligado. É fim de tarde. Rezam o terço em
Fátima. O sacerdote pede para rezarmos pelo Papa que vai recolher a um
convento. Vou rezando baixinho e pedindo a este sábio e santo Papa, que dentro
em breve ficará em solidão plena a sós com Deus, reze também por mim e pelos
meus, reze por todos nós.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8LGxNYNXmpFkcqb6HKTnfauuiqKdr7tVvVpeoxvUSpJBVxMZxM_aVDTTup-NQe86t9LwoFB3qZRvdn1W_dD8eIt7UwzxAIdYdzEJJX_tYiEltITTjIHTWX4t-1CwyYjVL3tuybmLeixE/s1600/A+Ora%C3%A7%C3%A3o+Crist%C3%A3+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8LGxNYNXmpFkcqb6HKTnfauuiqKdr7tVvVpeoxvUSpJBVxMZxM_aVDTTup-NQe86t9LwoFB3qZRvdn1W_dD8eIt7UwzxAIdYdzEJJX_tYiEltITTjIHTWX4t-1CwyYjVL3tuybmLeixE/s320/A+Ora%C3%A7%C3%A3o+Crist%C3%A3+001.jpg" width="207" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbR5X3e3bdZE3P-gzVCYMWMaPCFo-L_K7PMcbCekXZC_C1ScnO9VEip32-04TywWEGdF9FugOubC7mM_0db4GmyesKIJKGGyY6JZEjKYIZQ2NccyM2LakmfCFNn1c_occK1qBcVQx2A0E/s1600/A+%C3%9Altima+Li%C3%A7%C3%A3o+-+2+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-68809124593401509232013-02-16T08:43:00.001-08:002013-02-16T08:43:43.143-08:00BIBLIOTERAPIA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia_FCvF4iMqcgrqIiPVg6lpC_EzIvzlpyTrpoU75JQQj3H-dbew6Nc6IMjW7te4y9tFrBlInah9IQeZWw7HnTyNLaQQ-yrzMw8dBRlJStB9ZwWN6gYDACCijgxf7k1AliW4FXEasxf-74/s1600/Biblioteca%2520de%2520tert%C3%BAlia%2520001%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia_FCvF4iMqcgrqIiPVg6lpC_EzIvzlpyTrpoU75JQQj3H-dbew6Nc6IMjW7te4y9tFrBlInah9IQeZWw7HnTyNLaQQ-yrzMw8dBRlJStB9ZwWN6gYDACCijgxf7k1AliW4FXEasxf-74/s320/Biblioteca%2520de%2520tert%C3%BAlia%2520001%5B1%5D.jpg" uea="true" width="308" /></a><span style="color: #365f91;"><span style="font-family: Cambria;"><span lang="PT"><span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span lang="PT"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dão-me licença que vos apresente o escritor colombiano Nicolás Gómez Dávila? Reuniu, durante anos, em Bogotá, na sua casa e na majestosa biblioteca de mais de 30.000 volumes, os seus amigos em agradável tertúlia dominical. A leitura atenta e inteligente que fazia das obras, muitas delas em versão original, transformaram-se, com o tempo, numa verdadeira biblioterapia. E dessas inúmeras e cuidadosas leituras deixou-nos, em jeito de sentenças, de máximas, de aforismos ou de escólios, uma obra única e imperdível: <u>Escolios a un texto implícito</u>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Infelizmente, nunca será publicada entre nós. Não pela sua extensão – 1407 páginas -, mas pela profunda riqueza do seu pensamento e a natural coragem com que, página a página, o afirma e confirma. Não é, como rapidamente se percebe ao lê-lo, um escritor politicamente cobarde a que o medroso vulgo chama agora politicamente correcto. Não creio, assim, que haja, hoje, editora que se abalance a editá-lo na nossa língua. Peço, por isso licença para o trazer aqui, ao nosso convívio. É que já faz parte da minha estante reservada e entra, pois, de direito próprio, nesta tertúlia invisível.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As sentenças são reflexões breves, usadas na Idade Média, muitas vezes com carácter moralista. Em S. Martinho de Dume (séc. VI) nota-se influência de Séneca, temperada pela perspectiva cristã. Um bom exemplo: “ Não estejas sempre em acção. Deixa, às vezes, a tua alma repousar, sendo este descanso dedicado à busca da sabedoria e aos bons pensamentos”. As máximas, embora tenham idêntico significado e sabor latino, estão normalmente associadas ao moralista francês La Rochefoucauld, autor das <u>Máximas</u> (1665). No século seguinte, o nosso Matias Aires seguiu o mesmo trilho, embora colhendo a lição bíblica, com <u>Reflexão sobre a Vaidade dos Homens</u> (1752). De raiz grega é a palavra aforismo, que está sobretudo ligada, no século vinte, ao romeno E. Cioran, com a amargura e niilismo que lhe estão associados. Ou aos aforismos luminosos e profundamente cristãos do escritor francês Gustavo Thibon que foi, justamente, considerado, pela simplicidade e grandeza dos seus textos, o camponês filósofo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A palavra escólio, também ela de origem grega, significa comentário, necessariamente breve, que se põe na margem de um texto para melhor o explicar e compreender. Uma simples nota, mas de grande clareza e visão certeira. E porquê um texto implícito? O texto implícito é, no fundo, o texto ideal, completo, perfeito e acabado mas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>apenas na nossa imaginação. Ainda não está explícito. É só implícito. Por enquanto. E daí estas pequenas achegas, estas simples notas, estes escólios. E que escólios, caríssimos amigos!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eis alguns, como mero aperitivo, pois é tempo de Quaresma:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um livro inteligente faz-nos sentir inteligentes, como uma marcha militar, heróicos.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><u>Credo ut inteligam</u>. Traduzimos assim: creio para me tornar inteligente.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Deus não pede submissão da inteligência, mas uma submissão inteligente.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A religião não teve origem na necessidade de assegurar a solidariedade social, nem as catedrais foram construídas para fomentar o turismo.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A verdadeira religião é monástica, ascética, autoritária, hierárquica.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O cristianismo não inventou a noção de pecado, mas de perdão.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A vulgaridade colonizou a Terra. As suas armas são a televisão, a rádio e a imprensa.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O jornal recolhe o lixo do dia anterior para tomarmos o pequeno almoço com ele.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nem todo o professor é estúpido, mas todo o estúpido é professor.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A boa educação parece um produto aromático do séc. XVIII que se evaporou.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O progresso imbeciliza tanto o progressista que o torna incapaz de ver a imbecilidade do progresso.</span><a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As hierarquias são celestes. No inferno são todos iguais.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não foi fácil descobrir este inolvidável escritor colombiano, que nasceu em Bogotá, a 18 de Maio de 1913 e nessa mesma cidade faleceu a 17 de Maio de 1994, mas, como diz no prefácio de esta obra Franco Volpi, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">o difícil, agora, é perdê-lo</i></b>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqRJw8_62E6OcBclnscA5_gy74_oAzOKzk0wBUWaKHEIKFoYabuXJ49uWKb7cTVUc8sLHDpN7O4uQgxo0-xISDzqdj-SAh9Kl53LDEZu3KWm1lYjpWtgicjkBHFN1WMBqRA2gYJl6Zp8U/s1600/Escolios%2520a%2520un%2520texto%2520impl%C3%ADcito%2520001%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqRJw8_62E6OcBclnscA5_gy74_oAzOKzk0wBUWaKHEIKFoYabuXJ49uWKb7cTVUc8sLHDpN7O4uQgxo0-xISDzqdj-SAh9Kl53LDEZu3KWm1lYjpWtgicjkBHFN1WMBqRA2gYJl6Zp8U/s320/Escolios%2520a%2520un%2520texto%2520impl%C3%ADcito%2520001%5B1%5D.jpg" uea="true" width="203" /></a></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5505046005314996863.post-44027420441004340022013-02-07T00:05:00.002-08:002013-02-07T05:52:12.035-08:00O REGRESSO DE UM VELHO AMIGO<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCm2wUMUNgfAV8n7XSbDDkzpeiGXtc6qfeyhHU_r67mR_lo4OvWqGsG7gPpqCqqfQPoLyYrTUVS8rgztClIsGl6Kaluruvvr-38_dZMQNNGrj8LzoKU5dJ-MCBw_nu-UPZF7NPHYjHnXE/s1600/Menina+a+ler+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCm2wUMUNgfAV8n7XSbDDkzpeiGXtc6qfeyhHU_r67mR_lo4OvWqGsG7gPpqCqqfQPoLyYrTUVS8rgztClIsGl6Kaluruvvr-38_dZMQNNGrj8LzoKU5dJ-MCBw_nu-UPZF7NPHYjHnXE/s320/Menina+a+ler+001.jpg" width="209" /></a></div>
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Regresso, alvoroçado, ao encontro de um velho amigo. Um amigo que conheci na minha juventude e com quem partilhei tantas e tão boas conversas que, muitas vezes, se prolongavam pela noite fora. Um amigo que agora me acena de esta estante reservada e me pede o abrace de novo. Chama-se Giovanni Papini e traz hoje na mão, para que eu as leia, as <u>Cartas aos Homens do Papa Celestino VI</u>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por que não vem o leitor ter comigo? Faça o favor de entrar na minha biblioteca. Escolha uma cadeira e acomode-se à sua vontade. Não sei se quer tomar alguma coisa. Talvez um cálice de vinho fino, enquanto esperamos pela leitura das cartas. Não? Como queira. Faça na mesma de conta que está em sua casa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Logo no prefácio, situa o escritor italiano a obra que temos entre mãos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Celestino VI viveu numa terrível idade de procelas e de sangue, muito semelhante àquela em que vivemos, quando parecia que Satanás, “o príncipe deste mundo”, fazia o derradeiro esforço para precipitar o género humano no desespero homicida e na destruição de tudo o que rege e gera a vida. Parecia, então como hoje, que os homens, sacudidos e perturbados por terríveis furores de tétrica demência, tinham esquecido ou renegado todo o sentido de justiça, todo o impulso de amor. Mas Celestino não se calou, nem se deixou vencer pelas tentações daquela cobardia que demasiadas vezes se mascara com o honesto nome de prudência. Falou abertamente. Falou a todos e não apenas a quem o reconhecia como Vigário de Cristo. Lançou as palavras do seu grande coração como raios de luz no coração de todos.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Giovanni Papini assumiu sempre as suas convicções, não tomando atitudes dúbias ou ficando indiferente ao que se passava à sua volta e que, com saber e argúcia, criticava com a sua pena de escritor de futuro, de escritor profeta. Tinha a mesma visão dos indiferentes, dos dúbios, dos cobardes, dos que nunca tomam partido, que tinha Dante que os colocara a todos, com desprezo infinito, na antecâmara do Inferno – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a acolhê-los o Inferno não se atreve</i>, (III, 41) -, porque nem sequer merecem as chamas do fogo eterno. Mas há, em Papini, na sua voz solene e por vezes dura, um grande amor pelo ser humano, uma paixão pelo homem concreto e real, que ele vê e conhece, que sente e que sofre, que ama e trabalha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mais conhecido, entre nós, por obras como <u>Gog</u>, <u>História de Cristo</u>, <u>Um homem liquidado</u> são estas <u>Cartas aos Homens do Papa Celestino VI</u> hoje de flagrante actualidade. E reflectem uma faceta que nem sempre é devidamente valorizada : a de G. Papini como intelectual católico. Numa recente edição, em língua francesa, da famosa <u>História de Cristo</u> ( Éditions de Fallois/ L’Âge d’Homme, 2010), o professor da Sorbonne François Livi, que faz, aliás, uma excelente análise da génese de este livro, diz-nos que o escritor italiano não é um escritor assumidamente católico. Não posso concordar com esta afirmação. Estas <u>Cartas…</u> , para além de outras obras, provam precisamente o contrário.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos seus vários capítulos – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ao povo que se chama cristão</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos padres</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos monges e aos frades</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos teólogos</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos ricos</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos pobres</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos condutores dos povos</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos cidadãos e aos súbditos</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Às mulheres</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos poetas</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos historiadores</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos homens de ciência</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos cristãos separados</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos judeus</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos sem Cristo</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos sem Deus</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A todos os homens</i> – transparece sempre uma fé inquebrantável, servida por uma pena vigorosa, que ora lembra as epístolas paulinas, ora se adoça em poesia, no rasto do florentino Dante, que foi poeta e foi teólogo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não é possível lermos aqui todos os capítulos e é natural que a cada um agrade mais este do que aquele, que achemos, inclusive</span><a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><span style="font-family: Calibri;">, mais actual ou melhor conseguida a carta que, de certo modo,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se dirige também a nós, pela nossa profissão ou a nossa sensibilidade. Mas temos de reconhecer, com toda a honestidade, depois de lermos – ou rezarmos – o último capítulo – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Oração a Deus</i> – que é um livro que não esquece, que é um livro que fica, que é um livro que marca.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-size: 14pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este Celestino VI, criado pela ficção papiniana, lembra inevitavelmente o actual sábio e santo Pontífice que Deus, para proveito e edificação de todos, conserve e guarde por muitos e bons anos. E reconfortados agora na alma e saciado o espírito pela boa e sólida leitura, é talvez o momento do prometido cálice de vinho fino – a melhor bebida do Mundo -, para sossego e descanso de todos nós.</span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqrok1UmSPmnderr_ACiGrQrJJ0zdjeKLVOYLLrwaNttfLpL7WU-GfHh0OJwI2jdYXKQk7BOSQ7BovgRIhlbYC02dNMJZ7lNY6iDBtWyxXaJRnnulcXXLPZBDRkwfsvJchJHxF1Q2lRVo/s1600/Cartas+aos+Homens+do+Papa+Celestino+VI+001%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" jea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqrok1UmSPmnderr_ACiGrQrJJ0zdjeKLVOYLLrwaNttfLpL7WU-GfHh0OJwI2jdYXKQk7BOSQ7BovgRIhlbYC02dNMJZ7lNY6iDBtWyxXaJRnnulcXXLPZBDRkwfsvJchJHxF1Q2lRVo/s320/Cartas+aos+Homens+do+Papa+Celestino+VI+001%5B1%5D.jpg" width="221" /></a></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0in 0in 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
António Leite da Costahttp://www.blogger.com/profile/00465878629388150053noreply@blogger.com0